Foto Nº 1: Os parabéns às senhoras cozinheiras
Foto Nº 2 :Hora do sorteio
Foto Nº 3: ...os trabalhos do costume e os “trabalhadores” do costume...
Foto Nº4: O monteiro ensaia como irá matar o primeiro javali que se lhe atravessar à frente.
Foto 5: "...nestas coisas aparecem autênticos ases da faca..."
Foto Nº6: "...mais pareciam três soldados resgatados de uma qualquer operação militar ..."
Foto Nº7:"...Só não tinham ainda ar de gaseados…"
Foto Nº8: Há gente assim: nunca “desestem"!
Acordo dumas seis horas mal dormidas, às seis horas da manhã. Corro à janela para ver como está o tempo. Nublado. Mas não chove. Levanto-me, faço a minha higiene pessoal, passo os dedos por entre os cabelos e maldigo o facto de ter tantos cabelos brancos.
-Velho, estou velho. Só cabelos brancos!
Reconsidero e consolo-me:
- Bom, vale mais serem brancos do que estar careca.
Tomo o pequeno-almoço. Duas torradas com manteiga e mel. Foi o meu amigo Joaquim Pifano que me disse para comer mel. E eu como.
Vou à praça. É cedo. A D. Cesaltina vende-me um molho de agrião, outro de espinafres, mais um de grelos e um de coentros. São 6,10€. Não tem troco de 20. Nem de 10. Vou à padaria. Compro três bocados de boleima, duas broas de manteiga. Arrajo troco, pago à D. cesaltina e regresso a casa.
São já quase oito horas da manhã. Estou atrasado. Apanho as botas de borracha, fato de água e guarda-chuva. Despeço-me da mulher e da miúda e vou, apressado, a caminho dos Covões. Faço-me à estrada.
Hoje há montaria. Já por lá há alguns caçadores, melhor alguns “monteiros”. Na cozinha a azáfama do costume. Fazem-se fatias de ovos, e frita-se toucinho, baixinho. Bem frito.
Olho para o céu com medo que comece a chover. Um, amigo com aspecto de ser perito em meteorologia, tranquiliza-me:
- Não chove. O vento está dali, não chove, dizia enquanto estendia o braço em determinada direcção.
Cá fora os trabalhos do costume e os “trabalhadores” do costume: O Zé Ferreira a coordenar os trabalhos, o Domingos a receber o dinheiro das inscrições e outro tipo a preencher papéis que iriam servir par o sorteio das portas. Os postorers estão por ali também. Atentos. Do outro lado, no Bar, o Luís e o Carmo não têm mãos a medir. Um gajo pede dois cafés, quer pagar com uma nota de 5€ e logo o Carmo o avisa que não há troco e que mais tarde receberá o troco. Não sei se o recebeu ou não. Mas bebeu o café.
O tempo passa. A esta hora já chove e a bom chover. Das duas, uma: ou o tal amigo com aspecto de meteorologista, de meteorologista não tinha nada, ou então o vento já tinha mudado. As inscrições começam a bom ritmo. Carta de caçador para um lado, dinheiro para outro.
Um, saca de 40€ para pagar e logo o Domingos o corrige:
- Bota!Bota! Compõe: são 60€
- 50€ já ele era caro…
- Compõe que a ti também não te custa a ganhar…
O outro compôs. A pouco e pouco todos compuseram. Vieram os gajos que tinham as portas das matilhas, mais os atrasados. Tudo se compôs.
Pequeno-almoço. Já sabemos mas eu repito: fatias com ovos, toucinho baixinho frito, pão, vinho, Coca-Cola, sumos. Ah! E uns bolinhos redondinhos. Doces. Bons.
Hora do sorteio. A chuva viera com autorização para ficar. E ficou. A chamada é feita por ordem de inscrição e cada um tira o seu folheto que além de ter o número da porta e a zona, tem ainda farta informação sobre medidas de segurança não só durante a batida, como nos acessos às portas e regresso às carrinhas. Bem feito.
O Domingos ajuda:
- Vai com o Carlos! Tu com o Simões! Tocou-lhe o Sr. Marques! Tu com o Ferreira! Tu com o Luís! Você vai com o João! É este aqui. Olhe bem para a cara dele! Bela porta, pá! Essa fica virada para a mancha…
Quem ouve, naquela confusão, nem percebe que todas as portas ficam viradas para a mancha e acha que até já começou a ter sorte.
Hora da partida. Nem por isso a chuva tem dó.
- A primeira brigada a partir é a do Marques. Podem juntar os carros ali à frente, grita o Zé Ferreira.
Eu, bem, eu vou com o Carlos. Este avisa:
- Podem levar qualquer carro que vai-se no alcatrão até ao ponto de saída. E podemos ir já!
E vamos. Trezentos metros á frente o Carlos pára. Falta um gajo ao seu grupo. Telefonemas e mais telefonemas. Onde andará o gajo?
- Se calhar o tipo fez como uns fizeram há bocado. Meteram-se na minha carrinha mesmo depois de lhes ter dito se tinha avisado o seu postor. Quando lhes perguntei de que zonas eram nenhum era da minha e lá saíram. Aqueles o que queriam era andar de carrinha…diz o monteiro da porta 7A
- Ó pá, vamos mas é embora que já está tudo a passar por nós. Se o gajo se perdeu, não se perdesse. Ele há-de lá ir ter.
E foi assim mesmo que aconteceu. Chegou um pouco mais tarde mas ainda muito a tempo de apanhar com toda aquela maldita chuva que caiu.
Chegamos à porta por vota das 11h40m. O meu companheiro, sabido nestas andanças das batidas sentenciou:
- Não vamos começar antes da uma da tarde.
A chuva, essa já começara há muito. Choveu todo o santo dia de caça. Debaixo do guarda-chuva o barulho da água é ensurdecedor quando se quer ouvir o que soa lá fora. Nada, não soa nada. À uma e meia da tarde, finalmente ouvem-se os cães a latir, lá muito longe. Começara a largada dos cães. Agora era só esperar. O pessoal da zona A está expectante. Às 13,50h ouve-se o primeiro tiro. Um só. Sinal de que o bicho ficou. Se não tinha levado outro balázio…
O tempo passa lento na zona A. O monteiro ensaia como irá matar o primeiro javali que se lhe atravessar à frente. O Carlos foi lá para a frente com os diversos monteiros sendo que por cada porta que passava ia “perdendo” um companheiro. Os batedores com os búzios e os cães, esses começam a soar mais perto e depois afastam-se de novo. De javalis, nem sinal. Nem muitos nem poucos. Nada!
Na porta sete da zona A, comentava-se, melhor desejava-se:
- Eles agora foram para cima pelo lado de lá e depois quando regressarem para as carrinhas vêm por este lado e de certeza que aqui tiram uns porcos. Se o tempo estivesse bom, isso já havia por aí porcos por todo o lado. Assim só sai algum se os cães forem dar mesmo com eles...
Pura ilusão. Os matilheiros não bateram convenientemente a mancha. Pelo menos a zona A. Esta zona não foi batida. Depois da montaria, na Sede, ouvi comentários de quem se queixava de que noutras zonas se tinha passado o mesmo. Perante o desespero de quem tinha “composto” 60€ e não tinha dado nem um tiro lá regressámos à carrinha, às 15,30h. O desespero não era pelo facto de não se ter dado tiros ou matado, mas pelo facto de haver a convicção de que se a batida tivesse sido mais bem orientada em termos de batedores, sendo as matilhas mais abrangentes na área da mancha, teria aparecido muito mais caça.
- Vá lá que ainda vimos dois patos bravos e um tordo…consolo o meu desconsolado companheiro
E com esta consolação chegámos à Sede onde uma reconfortante sopinha e uma “Jardineira” nos fizeram sentir bem mais reconfortados. Os parabéns às senhoras cozinheiras. O vinho bebia-se, e os sumos e a Cola não sei, porque não os provei. As azeitonas estavam salgadas. As maçãs eram boas e as tangeras também.
Cá fora e depois de termos enchido a “mula”, enquanto eu e o meu companheiro esperávamos o regresso do postor que traria os outros nossos dois companheiros, iam-se esfolando uns porcos. E nestas coisas aparecem autênticos ases da faca. Em cima do rebordo do poço, afia-se a faca e esfolam-se os bichos. Outro é esventrado no chão. Ao lado alguém cochicha:
- Estes gajos, há tantos anos que já aqui estão, bem já podiam ter aqui construído duas ou três mesas com tampos em cimento para esfolar a bicharada…
Começa a entardecer e finalmente chega o postor que era suposto trazer os amigos em falta. Traz caça morta mas não traz os nossos amigos. Faltavam-nos dois. regressou sem eles, mas não teve culpa nenhuma: alguém o informou que se poderia vir embora pois que para traz não havia já ninguém. Mas afinal havia. E não eram só dois mas sim três. Voltou para trás.
Chegaram por volta das 18,30h. Foram recebidos como heróis e, perdoem-me a comparação, mas mais pareciam três soldados resgatados de uma qualquer operação militar do exército português nas ex-colónias ultramarinas. Só não tinham ainda ar de gaseados…
Comeram, beberam e voltaram as suas casas muito contentes por regressarem bem e por terem vindo. Não contaram com a sua pontaria para as seis peças de caça abatidas hoje, mas prometeram voltar.
Há gente assim : nunca “desestem"!