5 – O ACORDO ORTOGRÁFICO
Quero agradecer àqueles que manifestaram o seu agrado pela nova imagem “DO CASTELO”. Vai-se mudando alguma coisa, penso que para melhor. Mas há uma coisa que por aqui não vai mudar, pelo menos até não ser obrigado a tal: a escrita de acordo com o novo acordo ortográfico. Pelo menos por duas razões essenciais: primeiro nunca me foi perguntado se eu queria aderir ao referido acordo e segundo por solidariedade com todos aqueles meninos e meninas da minha geração que tantas reguadas e canadas na cabeça levaram por escreverem com erros. Não é para me gabar, mas por acaso a mim isso raríssimas vezes me aconteceu. Mas tive colegas que eram autenticamente sacrificados com situações dessas. Para já não falar nas vezes sem fim que a nossa professora nos mandavam escrever a mesma palavra repetidas vezes numa folhinha de caderno, de quando em vez de duas linhas, que era para a letra também ir ficando direitinha. Eram as então chamadas “palavras difíceis”.
E lá vinha a ordem:
- Hoje vão para casa e vão escrever a palavrinha “directo” cinquenta vezes. Não se esqueçam que tem um “c” de cão antes do t…
E a maralha lá ia para casa escrever cinquenta vezes para aprender e nunca mais se esquecer que a palavra “Directo” tem um “c” de cão antes do t. Agora vem uns papagaios quaisquer dizer que a palavrinha “Directo” já não tem um “c” de cão antes do t. Por aqui, “DO CASTELO” irá escrever como aprendeu. De modo que fica já esclarecido: algum erro que por aqui apareça é mesmo erro e não é fruto de aderência a qualquer acordo ortográfico.
Vejamos se compreendem facilmente este texto da minha própria imaginação:
De fato vi passar o João com ar contrafeito. Também era um fato real que não era habitual vê-lo de fato. O fato, de fato, ficava-lhe apertado e parecia que ia mais metido numa camisa-de-onze-varas do que de fato num fato. Cumprimentei-o:
- Bom dia João, onde vais de fato? Estranho porque de fato não é habito ver-te de fato…
- De fato não costumo andar de fato, mas acontece o seguinte fato: vou a um casamento que de fato até já devia ter acontecido há um mês e daí o fato de tu hoje me veres de fato. Mas confesso: de fato, não gosto muito de andar de fato…
- Não me leves a mal mas de fato esse fato é um fato que não te assenta lá muito bem…
É claro que exagerei nos termos que apliquei, mas eles não são de todos de excluir. Podem acontecer e, quanto a mim, fica instalada a confusão… mas, no meu fraco entender, tudo ficaria mais perceptível (apesar da confusão propositada) se se lesse, melhor, se se escrevesse assim:
De facto vi passar o João com ar contrafeito. Também era um facto real que não era habitual vê-lo de fato. O fato, de facto, ficava-lhe apertado e parecia que ia mais metido numa camisa-de-onze-varas do que de facto num fato. Cumprimentei-o:
- Bom dia João, onde vais de fato? Estranho porque de facto não é hábito ver-te de fato…
- De facto não costumo andar de fato, mas acontece o seguinte facto: vou a um casamento que de facto até já devia ter acontecido há um mês e daí o facto de tu hoje me veres de fato. Mas confesso: de facto não gosto muito de andar de fato…
- Não me leves a mal mas de facto esse fato é um fato que não te assenta lá muito bem…
Mas a grafia portuguesa tem coisas engraçadíssimas. O que lhes vou aqui deixar não é da minha própria imaginação, e até por isso tem imensa piada. Você sabia que é possível construir um texto de vários parágrafos e sempre com palavras começadas com a letra “P”? Isto é tão-somente uma curiosidade e nada tem a ver com acordos ortográficos.
Nesse aspecto estamos entendidos, não é verdade?
Acordo ortográfico em “DO CASTELO”…JAMAIS!
E vamos ao texto dos “P”:
Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais... Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos.. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir.
Posteriormente, partiu para Pirapora... Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.
Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris.
Partindo para Paris, passou pelos Pirenéus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas.
Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se.
Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. - Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.
Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para papai Procópio para prosseguir praticando pinturas.
Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? Papai - proferiu Pedro Paulo - pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.
Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando.
Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito.
Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo pereceu pintando...
Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar.... Para parar preciso pensar.
Pensei. Portanto, pronto pararei.