sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CESTAS DE POESIA (CIX)

Termino hoje estes dois meses de poesias que dediquei a um dos grandes, senão o maior,
vultos da poesia popular repentista do nosso Alentejo: JAIME VELEZ, O MANTA BRANCA, natural que foi de Benavila.
Durante dois meses por aqui deixei à vossa consideração nove poemas em décimas que atestam bem da qualidade deste poeta ganhão. Se na semana passada o Jaime rendia uma homenagem ao pai como grande mestre da poesia, agora é o próprio Jaime que, porventura graças ás lições que recebeu do pai, se acha já em condições de ser ele a dar lições de poesia. Ora atentemos no seguinte:

De Almadafe e Malarranha
E do Vale de Freixo talvez,
Quem quiser lições que venha
Recebê-las do Velez

 
Para os alunos ensinar
Tenho aberta a minha escola
Todos com a mesma bitola
P’ra exame os quero levar
Quero mestres apresentar
A quem aprendizes tenha
Vou mostrar a quem desdenha
Sou dos mestres o primeiro
Venham todos quantos queiram
De Almadafe e Malarranha
 

Tenho honra em ser professor
Sou da aula o presidente
De ensinar sou competente
Mesmo algum que mestre for
Ensino qualquer senhor
Ensino a dois e a três
Ensino doutores de leis
A delegado de juiz
De Santo António de Avis
E do Vale de Freixo talvez

 
Com a bonita maneira
Tenho teorias bem dadas
Só emprego reguadas
Nalgum que aprender não queira
Quando digam asneira
Levam teoria tamanha
Vou mostrar minha façanha
Na cartilha fraternal
Da Freguesia e do Ervedal
Quem quiser lições que venha

 
Eu no Alentejo estudei
Só com as vinte e três letras
Faço explicações bem “fêtas”
A regra do A B C eu sei,
Já bastantes ensinei
Foi assim que o Camões fez
Um cantor português
Dá lições para instruir
De todo o lado podem vir
Recebê-las do Velez.
 
Para terminar mais uma vez referir o suporte informativo que recebi do livro “Poetas Populares, 3º volume” da autoria de Fernando Cardoso.







quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

GRUPO CONCELHIO DE AVIS DO PROJECTO LIMPAR PORTUGAL PROMOVEU VISITA À VALNOR

Foto 1 - Muitos anos - Sandra Pedrogram: "Este aterro atrás de mim, estará decomposto daqui a 200 anos..."
Foto 2 - Muitos plásticos
Foto 3 - Muitos vidros
FOTO 4 - Muitas gaivotas...
Foto 5 - Muitos carros embalados
Foto 6 - Muitos colchões
Foto 7 - Muitos materiais utilizáveis no imediato
Foto 8 - Muita satisfação pela visita


O Núcleo Concelhio de Avis do Projecto Limpar Portugal levou a efeito, com o patrocínio do Município de Avis, uma visita às instalações das Valnor, sitas no concelho de Avis, entre Figueira e Barros e Alter do Chão. Às 09,15m do dia 17 já várias pessoas estavam concentradas junto da Caixa Geral de Depósitos e às 09,30h vinte e cinco deslocaram-se no autocarro camarário em direcção à Valnor num percurso que demorou cerca de meia hora.

Chegados ao destino a maioria destes visitantes puderam pela primeira vez assistir às explicações que Sandra Pedrogram, demoradamente lhes deu.

Referiu Sandra Pedrogram que a Valnor se iniciou em 2001, actuando em sete concelhos e que actualmente engloba 14, sendo já alguns provenientes do Ribatejo e Beiras. A Valnor emprega 150 trabalhadores e durante a visita tivemos ensejo de ver duas operárias de Avis.

Começando as explicações em frente de um aterro sanitário, explicou o modo como os mesmos são preparados, afirmando que aquele que ali estava daqui a 200 anos estaria completamente transformado. As águas que o aterro produz, - águas lexiviadas - são transportadas para umas lagoas e após um ano de repouso e tratamento das duas umas: ou estão em condições de entrarem no circuito ambiental e entram, ou não o estão e voltam de novo para o aterro. Estes são tapados com terra para evitar as pragas de gaivotas, cegonhas e carraceiros que por ali teimam, apesar de tudo, em se juntar.

Informou que estão a ser distribuídos contentores para o óleo alimentar e que este, após recolha e adicionado com gasóleo produz o biodisel, combustível que já abastece toda a frota da Valnor.

Foi feita uma visita guiada a toda a zona de separação de lixos sendo de destacar as zonas do papelão, do plástico, dos vidros, dos resíduos orgânicos – de referir que para se ir para este pavilhão teve que se ir de autocarro, tal a extensão das instalações da Valnor -, do desmantelamento e “enfardamento” de automóveis.

Sandra Pedrogram afirmou ainda que os escritórios da Valnor se encontram situados em cima de um antigo aterro, onde existiu antigamente uma lixeira a céu aberto. Os contentores, por serem leves, servem de instalação para os referidos escritórios.

Após duas horas e meia de visita o grupo regressou a casa mais consciente da necessidade de separar os lixos em casa e de os acondicionar devidamente nos respectivos receptáculos.

Com esta visita, cumpriu-se mais uns dos objectivos do Grupo Concelhio de Avis do Projecto Limpar Portugal, que culminará no próximo dia 20 de Março com a limpeza das lixeiras de Benavila, (junto à ponte para Valongo) e a do Ervedal, na confluência da Ribeira de Sousel com a Albufeira do Maranhão. Antes já outro objectivo tinha sido concretizado: a visita às lixeiras do concelho, da qual resultou a elaboração de um relatório já enviado ao Município local.

Para terminar o apelo do costume: junte-se ao GRUPO DE AVIS do PROJECTO LIMPAR PORTUGAL, para que no dia 20 de Março possamos deixar o concelho um pouco mais limpo do que se encontra agora.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

AMIGOS DO CONCELHO DE AVIZ - ASSOCIAÇÃO CULTURAL, ESTÁ DE PARABÉNS!


Faz hoje precisamente doze anos que catorze pessoas amigas de Avis, pelo menos à altura, se dirigiram à Conservatória do Concelho de Avis e perante o Sr. Simão Velez ali assinaram a constituição daquela que viria a ser a AMIGOS DO CONCELHO DE AVIZ – ASSOCIAÇÃO CULTURAL. Curiosamente, dos 14 fundadores apenas seis se mantêm como sócios. Uns faleceram, outros adoeceram, outros desapareceram para parte incerta, outros por qualquer motivo que desconheço, resolveram deixar de ser sócios.
Várias vezes “DO CASTELO” tem feito referência a actividades desta Associação. Assim continuará a ser sempre que lhe cheguem atempadamente eventos a levar a efeito pela ACA.
Aliás, como acontecerá com qualquer outra associação.
Para sabermos mais detalhadamente o que é e tem sido a ACA vamos transcrever o que Fernandino Lopes, fundador e ainda sócio diz sobre a mesma, em resposta a um pedido que lhe foi endereçado por “DO CASTELO”:

"A Amigos do Concelho de Aviz – Associação Cultural foi fundada em 23 de Fevereiro de 1998 e, entre outros, inscreve nos seus objectivos a defesa do património cultural e natural do concelho de Avis.
A especial atenção que ao longo da sua ainda breve existência tem dedicado à escrita, aos autores e à promoção da leitura, designadamente, com a publicação trimestral da Folha Informativa Águia, que este ano comemora o 10º aniversário, a organização dos Jogos Florais de Avis, com a 8ª edição em curso e que em anteriores edições já recebeu mais de 3 500 trabalhos originais apresentados a concurso, a realização de encontros de poetas populares, consubstanciam uma perspectiva singular no meio onde se insere de contribuir para aquele seu objectivo, porque assim a entende como uma das formas de o prosseguir.
Mas, questionando-se permanentemente sobre maneiras de (re)criar abordagens de acção, de divulgação, de promoção, de preservação e de defesa do património cultural e natural do concelho de Avis, sem esquecer a atracção de novos públicos – ainda que consciente do contexto social e territorial envolventes -, a iniciativa Escritos e Escritores – Avis 2009 – 1ª Edição, que a Amigos de Concelho de Aviz organizou no passado mês de Outubro, conseguiu - a par de outras iniciativas como o ciclo de conferências “Aviz, Século XXI”, organizado entre 2005 e 2007 - ultrapassar a fronteira da indecisão, saltar o medo do fracasso, romper a incerteza da aceitação, superar os confins da inconcebível interioridade, para, excedendo todas expectativas, constituir-se num evento cultural que trouxe a Avis um considerável número de escritores - uns que desceram desde Coimbra, outros que lá debaixo do Algarve se fizeram à estrada e outros ainda que de Lisboa partiram em direcção ao interior alentejano -, onde foi constante a exaltação dos livros, o incentivo à leitura, o convite à escrita e o diálogo entre as partes – escritores e leitores, sem esquecer o vasto e rico património edificado de Avis que também pôde ser dado a conhecer e a desfrutar.
Rabiscam-se, já, as primeiras e novas ideias sobre o Escritos e Escritores – Avis 2010 – 2ª Edição, enquanto a procura incessante de fazer sempre mais e melhor continuam a ser a motivação permanente desta associação que também pelos livros e em tudo do muito que lhes está associado, vê um veiculo privilegiado de enriquecimento cultural.
Mas as actividades da ACA estendem-se a muitas outras áreas, como sejam os intercâmbios culturais que têm trazido a Avis gente que nunca por cá tinham passado e que vieram de locais tão distantes como Olhão, Cuba, Almada ou Beja, estando prevista para este ano a vinda de uma comitiva da Freguesia da Ameixoeira, de Lisboa. Os circuitos culturais em BTT, sempre com uma componente cultural e os passeios pedestres pelas margens da Albufeira do Maranhão também já ganharam um espaço próprio e insubstituível. As tertúlias do “Café com Letras” que ciclicamente se repetem entre Janeiro e Junho de cada ano, quinzenalmente, sempre às quintas-feiras, na Sede às dezoito horas e que já ultrapassaram as oitenta sessões; as parcerias diversas com outras associações ou colectividades; as cantigas à desgarrada com o intuito de recriar espaços outrora de primordial importância para convívio e distracção. A ocupação dos espaços livres como o foi a actuação da banda Filarmónica Alterense no Jardim Municipal, aquando das comemorações do 10º aniversário. Os “Pedaluar”, que mais não são do que passeios de BTT efectuados à noite pelos campos do nosso concelho, marcam também um ponto alto das actividades da ACA, sendo muito participados e servindo para revitalizar a Praça Serpa Pinto, local onde fica sedada a ACA. As provas de Orientação, levadas a cabo pelo Núcleo de Orientação da ACA são igualmente actividades que apraz registar nesta pequena resenha. A ACA tem sido embaixadora do nosso concelho com a montagem de stands de exposição de escultura de Francisco Alexandre, nomeadamente nas Feiras do Alentejo realizadas em Almada e promovidas pela Alma Alentejana daquela localidade.
De referir ainda a venda de livros a preços extremamente baixos com a inicitaiva "Há livros na Feira", onde durante a Feira Franca de Avis se têm vendido uma média de 200 livros por feira.
As actividades desenvolvidas têm levado a que várias pessoas se associem, sendo que neste momento o número de registos de sócios já ultrapassou o número 300.
Isto é, de modo muito sucinto aquilo que me apraz registar em resposta ao solicitado por “DO CASTELO”.
P`la ACA,
Fernandino Lopes"



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ASSUMO: SOU GAY!

ASSUMO SOU GAY

Certamente que será um choque para todos os meus amigos esta confissão pública de que assumo a minha tendência homossexual. Esta é daquelas coisas que quando tornadas públicas tomam as proporções de uma bomba, pelo inesperado da situação, pelo impacto que tem em todas as pessoas. Você é um dos primeiros a saber disto. Passo a alguns pormenores. Desde muito novo que comecei a sentir atracção por homens mas envergonhei-me sempre de o assumir. Agora, o Primeiro-ministro de Portugal, esse grande homem, esse defensor das minorias que um dia se tornarão maiorias, deu-me a oportunidade de publicamente e sem falsos medos ou pudores dizer a todos aquilo que comigo se passa. Estou ansioso por finalmente poder contrair matrimónio com o homem dos meus sonhos que desde sempre tem enchido o meu coração... Espero em breve podermos mostrar à sociedade todo o nosso amor e poder passear-me com ele de braço dado pelas ruas da minha terra que em breve passará a ser “nossa terra”, minha e dele... Mais tarde havemos de adoptar uma criancinha e educá-la nos sãos princípios do homossexualismo. Já ando a pensar num nome para a criança mas ainda não falei com o meu amor para ver se ele está de acordo. Tenho a certeza de que seremos muito felizes os dois, eu e ele. Depois estou ansioso por nos amarmos a sós mas sem receios no escurinho do nosso quarto: e o amor entre gays é deveras emocionante. Desculpem-me os heterossexuais mas connosco há sempre uma segunda volta…ai!ai! Estão a perceber, não é?: ora é um o receptor ora é o outro…Até estou a corar…
Outro sonho nosso é podermos casar em Lisboa, nesse grande evento que são os “Casamentos de Santo António”. O santinho, que será por Decreto de lei igualmente o santinho dos gays casamenteiros, há-de ajudar-nos e havemos de fazer o par de noivo(a)s mais bonito da cerimónia.
Agora que já desabafei, que já soltei este aperto de tantos anos que já quase nem me deixava respirar, estou melhor. Mais liberto. Mais disponível para o amor.
Quando for visitar os meus amigos, saberão o nome do meu noivo, pois que ele é um moço muito reservado e ainda não se quer dar a conhecer.
Esta carta/comunicação é igual para todos aqueles que considero meus amigos, você incluído.
Obrigado por me compreenderem.
Vosso amigo, Jean-Joanne.
Lyon, aos 18 de Fevereiro de 2010.

Ao acabar de ler esta carta do meu amigo Jean-Joanne, fiquei sem palavras. O Jean-Joanne foi meu colega de estudos e à parte sempre me ter tratado por “você” e ter um modo diferente de se expressar com as mãos, tivera um comportamento em tudo dito “normal”, chegando mesmo uma vez a ir comigo às meninas, lá para os lados do Técnico, em Lisboa. Agora resulta num pan, perdão num gay? Mas que raio lhe deu? Estou deveras perplexo e não vou fazer mais comentários. Afinal, dele agora apenas lhe reconheço o raciocínio um pouco enviesado na maneira como continua a escrever
Cada um de vós que o faça o seu próprio juízo e se for possível, ajudem-me a escrever uma carta para enviar de volta ao Jean-Joanne.
Fico muito agradecido.

P:S: Para aqueles que chegaram a pensar que isto era uma declaração subscrita por mim, devo confessar que fiquei muito “chocado” convosco. Apesar da proximidade do Carnaval, não vos vou desculpar.
Mas não conto nada a ninguém!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

CESTAS DE POESIA (CVIII)

De novo com a poesia de JAIME VELEZ, O MANTA BRANCA.
 Vou dar a conhecer mais umas décimas publicadas em “Poetas Populares” – 3º volume, da autoria de Fernando Cardoso.

Pelo teor das mesmas, depreende-se que o poeta-ganhão dedicou estas décimas a seu pai que fora seu professor na arte de fazer poesia.


Então, é assim:

Na aula aonde eu estudei
Já os estudos deram fim
Já não há quem lições dê
Só chegaram para mim

Saí logo oficial
Nem cheguei a ser sargento,
Tomei conta do regimento
Dos cantores de Portugal.
Até podia ser marechal
Na carreira que tomei
Não pode outro nem por lei
Ter exame igual ao meu
Já se fechou o liceu
Na aula aonde eu estudei.


Só eu as podia dar
E já não eram naturais,
O meu mestre sabia mais
Eu não me posso comparar.
Deixou-me no seu lugar
não por ser igual a mim
Eu tenho-me por mais ruim
E é menos o meu valor,
Morreu o meu professor
Já os estudos deram fim.


Da mesma sanguinidade
A todos deixou herança
Com o dote resta a esperança
Desde que haja habilidade.
Ensinou-me de vontade
Eu de vontade “escutê”
Inda hoje por aí se vê
Escritas que ele deixou
Já o meu mestre findou
Já não há quem lições dê


Tinham melhores condições
Esses antigos liceus
Como a escrita de João de Deus
E os Lusíadas de Camões.
Esses modernos padrões
Caem sem dar motim
Mas até o “pelourim”
Da maior altura cai
As teorias de meu pai
Só chegaram para mim.



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

CHOCALHARAM-SE AS COMADRES

Foto 1 - "FRANCISQUINHA" a estrela da companhia...
Foto 2 - MESTRE ORLANDO, "pai da chocalhada" e ANTÓNIO HENRIQUES "pai" da Francisquinha 
Foto 3 - Pela Rua do Convento


Foto 3 - O Repasto e o anfitrião

Tal como o meu colega “DESABAFOS” atempadamente noticiou, no passado dia 10, quarta-feira, chocalharam-se as comadres cá pela vila de Avis.
Comecemos pelo princípio.
Tudo começou com uma conversa de cadeira de barbearia quando o Mestre Orlando escanhoava a barba ao Mário:
- Ò Mário, era interessante chocalharmos as comadres como fazíamos antigamente…
- Ó Mestre, eu arranjo os chocalhos...
Estava armado o balho!
O Sr. António Henriques terá sido dos primeiros a ser contactado e disponibilizou-se de imediato para fazer a boneca: a Francisquinha. Foram feitos mais contactos através do Mestre Orlando e arranjou-se uma lista para inscrições que ficou exposta na barbearia: ao todo arranjaram-se 18 foliões.
Embora o dia das Comadres fosse só na quinta-feira, parece que a tradição de chocalhar as comadres, cá em Avis, era na quarta-feira imediatamente anterior. E foi o que aconteceu este ano: às sete da tarde, hora aprazada para a concentração, apenas duas pessoas na barbearia: o Mestre Orlando e o Sr. António Henriques. Melhor, três, pois que a radiosa Francisquinha também já lá estava.
- Sabe uma coisa? A última boneca que eu tinha feito ainda era solteiro, diz o Sr. António Henriques, radiante pela obra conseguida.
Riposto-lhe:
- Pelos vistos, isto de fazer bonecas é como andar de bicicleta, aprende-se uma vez na vida e nunca mais se esquece…
Às oito horas deu-se a partida. Os chocalhos já tinham sido atados, sendo também essa missão pertencido ao Ti Tonho Henriques.
O itinerário pré-estabelecido previa a passagem pelas ruas mais habitadas mas em breve se constatou a quantidade de casas devolutas que há por essa vila, nomeadamente na zona histórica. Aos poucos foram-se introduzindo as alterações que se acharam convenientes.
Na Rua do Convento os actores desta brincadeira, sentiram o calor dos flashes: duma das janelas alguém quis registar este momento único de há muitos anos a esta parte: uma fotografia para recordação. Não cheguei a saber era se tinha sido um Compadre bem-disposto ou uma Comadre incomodada.
Na Rua de S. Roque alguém vindo lá dos lados de Cascais e levada pela curiosidade, quis testemunhar o que se passava. Na Rua dos Muros houve quem espreitasse das águas-furtadas e na Rua das Cisternas duas idosas sorriram ao passar a “chocalhada”, talvez recordando outros tempos, outras histórias. Na parte poente da Rua António José de Almeida era bom de ver as moradoras do Cemitério Velho a espreitarem cá para baixo. A irreverência desta gente levou-os a interromperem uma aula de Inglês que decorria nas instalações da Junta de freguesia. Estupefactos uns, prevenidas outras, a aula terminou pouco depois não sem que antes a Maria Joana Moreno se vingasse da afronta despejando umas mãos cheias de farinha em alguns dos intrusos. Dali o cortejo seguiu tendo percorrido a Avenida da Liberdade, o Bairro Catarina Eufémia e o Ferragial das Amendoeiras, onde a Margarida Passadinhas defendeu a honra das Comadres enfarinhando mais um ou dois compadres. Seguiu-se a Combatentes do Ultramar. Nesta, uma pequena incursão para o Largo de S. Sebastião onde uma Comadre de nome Manuela Caçador, apareceu à janela e disse convicta:
- Se eu não estivesse doente como estou essa boneca já não estava aí não…
Fica a dúvida se estaria ou não.
Já na Rua António Alberto Ferreira Franco, na parte nascente da mesma, uma senhora comentava assomando-se à sua varanda:
- Eu disse para o meu Manel : vem aí um rebanho de ovelhas, e ele disse-me: não vês que não são ovelhas, são vacas…
E lá seguimos pensando como o Manel daquela senhora ia acertando nas vacas…só lhe faltou um bocadinho assim…
A Casa do Benfica estava atenta ao desenrolar do futebol quando aquela maralha irrompe por ali adentro. Alguns mostram cara de chateados pelo incómodo e inesperado da situação, enquanto outros sorriem, não sei se por gostarem da chocalhada se pelo facto de, à altura, o Porto ainda estar empatado…
Na casa do Mestre Orlando havia uma paragem obrigatória – tínhamos que beber ali um copo e um bolinho em festa organizada pela sua esposa. Entretanto já a Enfermeira Nídia, que esperava a caravana na sua casa com mesa posta e, em virtude do percurso ter sido alterado, trouxera a farinheira do marido (salvo seja!!!!) já frita, mais uns bocaditos de queijo e pão que a D. Alexandrina, vinda lá dos Luxemburgos, quisera adicionar ao lanche e à festa. Ali, na casa do mestre Orlando juntaram-se muitas comadres e a Francisquinha ficou bem guardada, a um canto da casa, pois que a todo o momento era previsto um ataque à mesma. Tal aconteceu já na rua, quando a comadre Deolinda fez uma incursão, Rua Machado dos Santos acima, correndo desalmadamente atrás do carro da dita Francisquinha. De imediato foi rodeada pelos capangas de serviço à guarda da Francisquinha, e depois de devidamente chocalhada, a comadre Deolinda regressou a casa com juras de que pró ano as coisas iriam ser diferentes.
Dali até à barbearia do Mestre Orlando não houve nada mais digno de registo, a não ser a cara de satisfação por dever cumprido dos cerca de 25 elementos que acabaram esta divertida forma de repor uma tradição que fazia parte dos Carnavais de antanho.
De registar o fair-play da comadre ANA que acompanhou todo o percurso, testemunhando fotograficamente a totalidade do “espectáculo”.
Esperamos sinceramente que as Comadres não esqueçam este “enxovalho” e que para o ano saiam elas à rua a chocalhar os compadres.
Se a vingança se deve servir fria, daqui até ao próximo Carnaval tem muito tempo de arrefecer. Não acham?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

NUMA CRÓNICA DE CARNAVAL NADA SE LEVA A MAL!

Foto 1 - Odaliscas de Alcórrego e Maranhão
Foto 2 - Tiroleses da Aldeia
Foto 3 - Chinesas de Valongo
Foto 4 - Os Cowboys eram de Avis
Foto 5 - Os faraós foram da Casa do Benfica
Foto 6 - Projecto Limpar Portugal - Um projecto á sua espera!
Foto 7- Lar da Santa Casa: Recordar os anos 60 mesmo aos 70...
Foto 8 - O Infantário da Santa Casa trouxe os seus pintainhos...
Foto 9 - Benavila teve Sevilhanas...
Foto 10 - Ervedal trouxe as mexidas camponesas...
Foto 11- A Figueira encerrou o desfile com os seus Piratas

…e ao terceiro dia acabou o Carnaval. Por causa do mau tempo, tudo recolheu ao Pavilhão da Escola de Avis. E foi bonito de se ver…

1 - O Alcórrego e Maranhão apresentaram-nos as suas odaliscas e macacos me mordam se não havia por lá já umas autênticas …odalascas...

2 - Aldeia Velha entrou com os Tiroleses e com alguns malteses à mistura e muitas mal tezas…

3 - Os de Valongo azucrinaram-me a cabeça com os Chineses. Se soubessem a fartadela que eu tenho de chineses e de lojas dos ditos, tinham-me poupado a esta prova de esforço suplementar…

4 - A Ludoteca de Avis trouxe-nos os seus Cowboys e as suas Cowgirls…confesso que até tive vontade de ser cavalo, mesmo sem sela…

5 - A Casa do Benfica disfarçou-se de Faraó talvez para ver se descobre o segredo que fazia deles (faraós) campeões, mas à séria…

6 - O Grupo Limpar Portugal marcou presença para chamar a atenção que é preciso limpar Portugal dia 20 de Março e em todos os outros dias do ano!

7 - O Lar da Santa Casa da Misericórdia de Avis trouxe até nós os anos 60 e, meu Deus quanto reumático acumulado! É certo que me fizeram pegar numa vassoura e fazer dela uma guitarra eléctrica e isso foi bom demais! O pior foi o torcicolo que apanhei com um passe de twist mal dado…

8 - O Infantário da Santa Casa veio para o desfile com os seus pintainhos. Muito devem ter suado certas galinhas de crista arrebitada que por lá andavam...

9 - Benavila trouxe as Sevilhanas, esguias, esbeltas (algumas) e confesso que nunca tinha ouvido umas sevilhanas com sotaque tão acentuadamente alentejano…

10 - Gostei sobremaneira das Camponesas de Ervedal. Agradável à vista, muito mexidas, embora demasiado vestidas para o evento…e não me venham com essa cantiga de que antigamente era assim…

11 - Fechou a Figueira e Barros, com os seus Piratas. Confesso que sabia que havia piratas na Figueira, mas assim tantos não sabia não…

Para finalizar, registo com agrado duas mensagens: a do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Avis que nos disse que nunca se é velho para viver e a do Grupo Limpar Portugal que foi o único que nos trouxe mensagens demasiado importantes, escritas em cartazes: é essencial a defesa do ambiente e o esforço de todos para que no dia 20 de Março nos empenhemos em deixar Portugal e nomeadamente o concelho de Avis mais limpo.
 Agora que acabou o Carnaval, junte-se ao Grupo de Avis do Projecto Limpar Portugal e vamos tratar a sério de um caso muito sério.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

NÚCLEO CONCELHIO DE AVIS DO PROJECTO LIMPAR PORTUGAL PROMOVE VISITA À VALNOR

Solicitou-me o Coordenador Concelhio de Avis do Projecto Limpar Portugal, que avisasse os possíveis interessados de que na próxima quarta-feira, dia 17, haverá uma deslocação às instalações da Valnor, com partida prevista para as 09h15m junto das instalações da Caixa Geral de Depósitos em Avis e com o intuito de sensibilizar para a necessidade da reciclagem dos lixos, sendo que ainda há alguns lugares vagos para total preenchimento dos 33 lugares do autocarro solicitado ao Município de Avis.
Mais nos solicitou ainda que informasse que quem quiser, poderá reservar o seu lugar pelo telemóvel Nº 969 015 106.
Fica o recado dado.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

AMO-TE BENFICA!

Foto 1 - Em busca da mesa perdida... é além!
Foto 2 - MÁRIO VELEZ, um Presidente à altura!
Foto 3 - Luis Filipe Vieira: um discurso fraquinho...
Foto 4 - É quase hora de almoço...
Foto 5 - NORBERTO OLIVEIRA recebe os parabéns de Luis Filipe Vieira
Foto 6 - Grupo de dança da Casa do Benfica em Avis
Foto 7 - ...uns passes de dança...
Foto 8 - Ataque ao bolo!
Foto 9 - Hora do lanche...
Foto 10 - Cardozo marca o Golo do nosso contentamento


O dia de ontem, sábado, esteve frio. Muito frio apesar do sol brilhar. Logo desde bastante cedo se começou a verificar um movimento anormal na pacatez da nossa vila. Algo de extraordinário se passava: só podia ser uma coisa bastante importante para levar a que várias pessoas da nossa praça, e não só, envergassem os seus fatos domingueiros que, diga-se de passagem, nem sempre assentavam  lá muito bem.
A razão era de todos conhecida e facilmente adivinhável pelo elevado número de “encarnados” que por aí abundavam: visitava Avis o Sr. Luís Filipe Vieira, Presidente do Sport Lisboa e Benfica, com intenção de inaugurar o novo visual da Casa do Benfica em Avis (ou será do Benfica de Avis?).
Com honras de outro qualquer Presidente, foi recebido ao mais alto nível nos Paços do Concelho local e de seguida visitou então as instalações da Casa em questão. Digamos que só a partir daqui é que acompanhei mais de perto esta rápida estadia entre nós de tão ilustre figura. (Se não é ilustre, pelo menos parecia…)
No pavilhão da Zona Industrial, que serve de apoio para as festanças dos benfiquistas da terra e seus convidados, aguardava-se com alguma ansiedade a chegada do Sr. Presidente do SLB. Os elementos da Comunicação Social local e regional – aquela que é a sério, que não é como essa coisa dos blogues – mostravam o seu desagrado pelo facto de todas as cerimónias terem sido antecipadas de meia hora sem que de tal tivessem sido avisados. Enfim, fizeram o que puderam.
Aos poucos, os trezentos convivas foram entrando no enorme salão primorosamente decorado, sendo que a entrada se tornou um pouco morosa pela dificuldade em se saber onde estava situada a mesa de quem procurava saber tal. Por fim tudo se compôs, sendo que a mesa do Sr. Presidente Vieira (sim, tem que se identificar o Presidente a que me refiro, porque havia por lá muitos outros ilustres presidentes: Presidentes de Juntas de Freguesias, de Câmara, de Assembleia Municipal, dos Amigos de Aviz etc.. Enfim, o que nunca faltam nestas coisas são Presidentes!), sendo que a mesa do Presidente Vieira, dizia eu, foi colocada ali mesmo no local onde um pneu de qualquer viatura de apoio deixou um enorme rasto no chão, talvez para lembrar que a origem deste agora homem todo poderoso do futebol nacional, começou nas negociatas de pneus.
Iniciaram-se os discursos com Mário Velez – aqui está outro Presidente que acima não mencionei – a dar o pontapé de saída. Com um discurso breve, sintetizou o Presidente da Casa do Benfica em (de?) Avis o que a Casa tem feito durante os últimos anos. O discurso pareceu-me equilibrado, sensato e curto q.b.. embora o nervosismo o tenha atraiçoado nas primeiras linhas. Depois tudo se recompôs e acabou com três vivas ao Benfica que empolgaram a assistência entusiasta. Seguiu-se o Sr. Presidente da Câmara – Presidente já referenciado – que foi apanhado de surpresa pois que o discurso que tinha preparado já o gastara nos Paços do Concelho. Mas de improviso acabou por sair airosamente, ou não fosse também ele um Benfiquista dos quatro costados. Finalmente o discurso do mais ilustre convidado presente, cuja categoria de Presidente também já foi aqui sublinhada. Confesso desde já que esperava mais. Considero que Luis Filipe Vieira fez um discurso fraquinho a que teria que dar uma nota não superior a onze valores numa escala de 0 a 20. Após os agradecimentos da praxe aos presentes, com especial ênfase para o fair-play do Sr. Vice-presidente da Câmara, Sportinguista assumido, que acompanhou esta visita benfiquista, quis o Sr. Vieira dar os parabéns à Casa do Benfica por tudo quanto tem feito em Avis, chegando mesmo a dizer que o esforço desta Casa deve servir de exemplo para as outras casas do Benfica. Referiu, e muito bem no meu modo de ver, que “ o futebol também é decência.”
Repito que este discurso me soube a pouco. Se fosse aqui pronunciado um discurso forte, hoje toda a comunicação social começaria as suas notícias por referir que “Luís Filipe Vieira afirmou ontem em Avis tal, tal, tal….” E Avis virava assim por algumas horas (dias?) como ponto central do benfiquismo nacional. Mas a explicação para este meu desencanto disse-o o Sr. Presidente do SLB mais adiante, ao afirmar no seu discurso, e passo a referir: “ se querem falar de nós que falem. Nós falamos de nós. Eles falam de nós porque reconhecem a nossa grandiosidade”. Acabou referindo-se ao lema do Benfica: “Um por todos e todos… pelo Benfica”.
Confesso que fiquei preocupado com um pequeno mas que pode ser um grande pormenor: o discurso do Presidente Vieira estava escrito em letras de tamanho para aí 18 ou 20 e a negrito. Os conselheiros do Sr, Presidente, talvez que o devessem aconselhar a visitar uma óptica o mais rapidamente possível. Ali há falta de vista. Fica aqui o alerta.
Seguiu-se o almoço. Também o achei fraquinho. Como o discurso do Presidente Vieira. Bem confeccionado e em quantidade bastante mas a ementa pareceu-me fraca para a grandiosidade da cerimónia e para tão ilustres convivas. Mesmo admitindo que o cação era da Barragem do Maranhão, como no tempo da D. Florípes lá do Retiro da Ponte, que Deus tenha. Com a barriguinha cheia – à excepção da minha amiga Teodora que não pode comer carnes de porco com espargos, por mor da tensão arterial – o pessoal começou a amolecer no seu Benfiquismo e nas suas cadeiras. Foi então que saltou para o palco alguém que resolveu acordar toda a gente daquela letargia: SLB, SLB, SLB foi o mote. Não lhe olhem para o corpo que os homens não se medem aos palmos. Depois de mais uns SLBs, os agradecimentos às freguesias do nosso concelho, sendo de salientar o agradecimento á Freguesia de “Alcorrêgo”. Estou em crer que não terá sido o primeiro nem o último que altera a acentuação a esta palavra. Mas que nos sou mal, soou. Melhor soou a esperança deste animador da tarde ao dizer que "o SLB irá atingir a curto prazo os 300 mil sócios…nem que para isso tenhamos que obrigar os nossos amigos e os amigos dos nossos amigos a associarem-se ao SLB." Aqui acho que o homem exagerou. Mas esteve bem ao leiloar uma camisola oficial com as assinaturas de todos os jogadores da equipa principal de futebol do SLB. A verba deste leilão reverteu inteirinha para a Casa do Benfica em (de) Avis e foi arrematada pela freguesia de Benavila por 225 euros, após acesa disputa com a Freguesia de Avis. Veio-se a saber depois que o “arrematador” não era de Bena mas de Alcochete e que sofria com o assédio Sportinguista daquela zona do país. Mas na altura estava a jogar pela Freguesia de Benavila.
Momento alto da festa foi aquele em que toda a assistência, de pé, cantou os parabéns ao amigo e Sr. Norberto Oliveira que faz anos hoje, dia 14. Desde sempre que este avisense defendeu com orgulho a sua condição de benfiquista. Foi merecido o aperto de mão que recebeu do Presidente Vieira. Visivelmente emocionado, embora bastante debilitado pela doença, agradeceu com um sorriso na boca e as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. Parabéns amigo Norberto!
Entretanto o Sr. Presidente pôs-se a milhas pois que às 17 horas jogava o glorioso na Luz. E nós ficámos. E assistimos às danças do Grupo de Danças da Casa do Benfica em Avis, ouvimos algumas cantigas alusivas ao evento e não só, pela voz sempre (ou cada vez mais?) agradável do Sr. Caldeira (da EPAC) que proporcionou uns passes de animada dança e por fim ouvimos alguns acordes do acordeão do jovem na idade mas já bastante maduro acordeonista Mário Boleto.
Aos poucos as pessoas iam abandonando o salão, ficando apenas os resistentes que queriam ver o SLB dar mais uma abada, tendo agora como alvo o Belenenses.
Antes do Jogo começar ainda se partiu o Bolo comemorativo destra festança. Um pouco tarde, digo eu, pois que muitos já tinham saído. O bolo estava bom – até era encarniçado e não deveria ter sido por acaso - e o champanhe escorregava bem pela garganta.
Começou o jogo e as coisas até que não se encaminhavam mal pois que aos dez minutos Cardozo marcou o primeiro de, pensava-se à altura, uma mão cheia de golos que afinal não apareceram. Quando aos 27 minutos de jogo, já com o Benfica a fraquejar, Fajardo falha perante Quim, um golo de baliza aberta, o meu companheiro de mesa diz com certa graça: “Este, temos que o mandar para o Hospital S. João de Deus em Montemor-o-Novo para lhe endireitarem os pés…”
Chegou o intervalo e com ele uma boa notícia dada pelo responsável da Cultura da Casa do Benfica em (de) Avis: "A mesa está posta, vamos lanchar." Lanchou-se e depois devido ao frio que se fazia sentir, abandonei a sala e fui ver o resto do jogo para um sítio onde pensava iria encontrar o calor de uma salamandra acesa, mas enganei-me, pois que a dita salamandra estava ainda apagada.
Valha-me ao menos que o Benfica ganhou…

 

Nota final:
“DO CASTELO” endereça os parabéns a todos quantos se empenharam na preparação desta festa. Numa apreciação final dar-lhes-ei uma nota positiva bastante alta e se não fosse isso não estaria aqui até para lá das duas da manhã para escrevinhar esta crónica…


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

CESTAS DE POESIA (CVII)

Mais umas décimas do grande poeta popular e repentista que foi JAIME VELEZ, O MANTA BRANCA.
Hoje reproduzo aqui umas décimas bastante tristes e que acabam por demonstrar bem a grandeza de princípios e sentimentos desse afamado Benavilense.


Tristezas e amarguras
É o que a morte produz
Vejo a minha casa às escuras
Tinha-me faltado a luz

Minha mãe que me criou
Não lhe cheguei a ver o fim,
Talvez a pensar em mim
Até à hora que acabou.
Já a morte me a levou
Para onde mudam figuras
Onde há tantas criaturas
E eu também para lá irei
Recebi quando cheguei
Tristezas e amarguras

Aonde preso me via
Alcancei a liberdade
Já não matei a saudade
De quem tanto bem me queria
Na terra onde jazia
Apenas se vê uma cruz
Tudo em pó se reduz
Naquele lugar escuro
Levaram-me o amor mais puro
É o que a morte produz

Alma bondosa e tão querida
Nunca mais a torno a ver,
Disse-lhe adeus sem saber
Que era para o resto da vida
Para onde foi conduzida
Cofre das minhas doçuras
Transformaram-se em torturas
E no que o meu peito existe
Eu fiquei chorando triste
Vejo a minha casa às escuras
Levaram-me o melhor que eu tinha


E para mim triste mistério
Já estava no cemitério
A minha pobre mãezinha.
Se eu apaixonado vinha,
Ainda pior me pus
Só a morte me conduz
Lembranças daquela ermida
Na minha triste guarida
Tinha-me faltado a luz.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

PROJECTO LIMPAR PORTUGAL VAI AO CAFÉ COM LETRAS

Desde a primeira hora que a Amigos do Concelho de Aviz – Associação Cultural (ACA) apoiou o Projecto Limpar Portugal: disponibilizando a sua sede para nela terem lugares as reuniões do Grupo Concelhio de Avis bem assim o equipamento necessário para que essas mesmas reuniões fossem ilustradas.



Como corolário dessa cooperação, amanhã, quinta-feira dia 11 pelas 18 horas, o Café com Letras daquela Associação versará o tema do Projecto Limpar Portugal, sendo oradores os membros da Coordenação Concelhia de Avis.


Eis pois mais uma oportunidade de, por um lado, se inteirar das actividades da ACA, e por outro ,melhor se identificar com o PLP.


Apareça.

Nota: este post foi redigido já com as normas do novo acordo ortográfico (entretenha-se a descobrir porquê…)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

AMANHÃ, QUARTA-FEIRA, VAMOS CHOCALHAR AS COMADRES

Há pessoas que parece a idade não passar por elas. No caso concreto estou a referir-me ao Mestre Orlando. Apesar da avançada idade ainda continua a trabalhar diariamente na sua barbearia e a ter idéias que não ocorreriam a qualquer um. Eis a última: VAMOS CHOCALHAR AS COMADRES NA QUARTA-FEIRA, DIA 10!
Passar da palavra à acção foi um ápice. O Sr. António Henriques ficou encarregado de fazer a boneca e de passa palavra em passa palavra, fez-se uma lista de inscrições e já há quase uma vintena de voluntários para recriar uma tradição que há muito se perdeu. Contam-me que duas das maiores "chocalhadas" eram as do Monte do Painho e a da Fonte Ferrreira, sendo que a Fonte Ferreira era a maior de todas.
Com partida prevista para as 19 horas ( mais coisa menos coisa) da barbearia do Mestre Orlando, as "comadres" vão ser chocalhadas sendo o percurso pelas ruas mais habitadas da nossa vila. Mesmo quem não se inscreveu pode amanhã, quarta-feira, aparecer pela barbearia à hora indicada que será muito bem vindo ao grupo.
Parabém MESTRE ORLANDO, pela lição de vida que dia a dia nos vai dando a todos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

NOS COVÕES HOUVE BATIDA AOS JAVALIS

Foto 1 - Os cães

Foto 2 - O pequeno almoço

Foto Nº 3 - O sorteio
Foto Nº 4 - A espera
Foto Nº 5 - O abate
Foto Nº 6 - A caçada
Foto Nº 7 - O almoço
Foto Nº 8 - O julgamento
Foto Nº 9 - O leilão

O dia amanheceu de tons plúmbeos pelas sete da manhã. O dia de hoje foi escolhido pela Associação de Caçadores, Apicultores e Pescadores dos Covões para realizar uma montaria. Havia que estar cedo na Sede, instalada nas antigas instalações onde funcionou a Escola Primária dos Covões. Chego por volta das oito da manhã e ainda só por lá estão as cozinheiras de serviço e o Presidente da Associação. Pouco mais.
Calmamente vão chegando os interessados nesta montaria: caçadores ou simples amantes da boa cozinha alentejana, vão se juntando aos poucos. Por volta das nove horas começa a dança dos papéis: há que escriturar as presenças (sócios, não sócios, pessoal das montarias, comensais). Depois proceder à escolha dos guias que irão distribuir os caçadores pelas diversas portas: o Ferreira, o Carlos, o Marques e o Luís são os previamente escolhidos. Acabadas as inscrições, são os números das portas metidos conjuntamente com uma série de recomendações úteis, dentro de envelopes fechados. Segue-se o sorteio: cada qual tira seu envelope enquanto o Ferreira avisa que devem sobrar seis portas de sócios que se inscreveram mas não apareceram. Depois do sorteio e verificadas as portas sobrantes poder-se-à proceder à troca de alguma sorteada que pareça menos boa.
Entretanto chegaram as matilhas.
Acabado o sorteio, o primeiro grande momento do dia para quem, como eu, estou ali pelo convívio e pelas guloseimas da Teodora, da Luzia e da outra senhora cujo nome desconheço mas que igualmente preparou o lauto pequeno-almoço: toucinho frito, febras fritas, chouriço e muitas, mas muitas, fatias de ovos, quentinhas, acabadas de fazer e acompanhadas por vinho branco, tinto, água ou sumos diversos. Para rebater um café, com cheirinho.
Hora da partida. Calhou-me em sorte o Sr. Marques como guia e lá fomos nós a caminho da porta Nº 7. O meu colega caçador (não esquecer que eu fui na qualidade de mochileiro) lamenta o facto da porta não estar mais afastada da mancha. Saberá mais tarde que no local onde ele queria a porta já é pertença da Reserva de Camões. Na altura não sabia.
São onze horas e já estamos instalados. Agora há que esperar até a malta dos cães chegarem. É aberto o banco de tripé e aguarda-se pacientemente. Onze e um quarto e soam os primeiros gritos dos batedores acompanhados dos ferozes latidos dos cães famintos.
- Os cães vêm com fome para serem mais agressivos, diz-me o Manuel Dias, meu companheiro de jornada. Eu que desconhecia, registo.
São cerca das onze e vinte e cinco da manhã. Um melro voa assustado e o Manuel, homem habituado a estas andanças sentencia:
- O melro assustou-se anda aí bicho...
Às onze e meia ouve-se um barulho violento a partir estevas. Um javali corre com quanta força tem para se ver livre da matilha que lá longe o persegue. O Manuel empunha a arma e espera que o animal passe no caminho. A besta aproxima-se. O barulho aumenta. Aparece. O Manuel treme-lhe a mão mas não tira o dedo do gatilho. Um tiro. Erra. Outro tiro. Emendou a trajectória e deu-lhe. O porco ficou ali bem perto a espernear. Um cão chega atrasado, mas chega. O porco já está exangue.
- Eu tinha cá um fezada, diz feliz e orgulhoso o Manuel que soma mais um javali à sua numerosa conta de espécimes abatidas. Já nem sabe quantos exemplares matou.
O cão afasta-se e os batedores soam cada vez mais longe…mais longe.
-Agora só se for algum que vier ao contrário, diz o meu colega caçador da porta sete.
Onze e cinquenta minutos. Ouve-se um partir de estevas secas. Nem eu nem o Manuel dizemos nada mas sabemos que vem ali mais um bicho. Ouvimo-lo aproximar. Está já muito cerca. Espingarda em mira, os braços cansam. O bicho não aparece. O barulho está cada vez mais perceptivo. Os braços aguentam ainda o peso da espingarda. Aí vem ele. Salta para o caminho a cem à hora (ou mais) leva um, dois tiros e afasta-se em louca correria. Depois pára lá em baixo no vale. Pensa-se que está morto. A espingarda é carregada com mais duas balas. Ei-lo que aparece na barreira em frente a fugir mas combalido, lá para duzentos metros de distância ou mais. O animal vai ferido mas não pára. O Manuel da porta sete atira-lhe mais três “balásios”. Vêem-se bater-lhe ao lado. Levantam pó aquelas balas tal como levantam pó as balas que o caçador da porta seis igualmente lhe desfere. O “porta seis” diz que lhe deu, o Manuel diz que foi ele que o fez ir abaixo pois com o declive do terreno nunca poderia “o porta seis” lhe dar. Fica a dúvida. Os cães deram com o porco lá muito longe do lugar “do crime” e os matilheiros apanharam-no. À tarde ainda “o porta seis” dizia que tinha sido ele que lhe partiu a pata esquerda dianteira e o Manuel lhe explicava que não podia ser.
À uma e meia já os cães tinham recolhido às camionetas e já tínhamos perdido o rasto a dois javalis que passaram despercebidos entre as portas cinco e um e se escaparam por aqueles campos fora acompanhados pelas nossas vistas enquanto puderam ser seguidos por elas.
Um telefonema via telemóvel para o Presidente Luís:
- Amigo Luís na porta sete há um javali para recolher…
Regressamos à sede da Associação. Caras de desânimo dos que não atiraram ou não mataram, cruzavam-se com sete caras de prazer: é que dos cerca de setenta tiros que foram disparados apenas se mataram sete porcos. Mais tarde os matilheiros chegaram com o tal que o Manuel ferira e os cães apanharam. Ao todo a batida rendeu oito animais.
Hora do almoço: quinze e um quarto. Quem se poderia negar a uma boa sopa de grão com massa, verdura e carne de porco? E o que dizer da boa pinga da Fundação Abreu Callado? Cinco estrelas que vão direitinhas para as cozinheiras: a Teodora, A Luzia e a outra senhora que não sei o nome.
A tarde avança. A temperatura está amena. Esteve um belo dia de batida.
Há que leiloar os porcos abatidos. Mas antes um ritual. O Domingos Cortes abateu pela primeira vez na sua vida um javali. Tem que ir a julgamento e depois ser baptizado. Sobe o acusado a tribunal sob a jurisdição do Juiz Ferreira. Ladeado à direita pelo advogado de defesa José Bicha, e à esquerda pelo advogado de acusação Joaquim Peixe o julgamento não foi pacífico. No final a pena é decretada pelo juiz Ferreira:
-Que lhe seja feita a cruz na testa com sangue do animal, que seja colocada na cabeça do réu a cabeça do animal e finalmente que se lhe dê um banho de tripas.
O povo ficou contente com a sentença. Aplaudiu batendo palmas entre risos de alegria.
Por fim o leilão. As licitações começaram sempre por 25 euros mas animais houve cuja licitação chegou aos 45 euros.
No final todos ficaram contentes e com vontade que haja uma próxima batida tão breve quanto possível.
A chuva que começou a cair em grossas bátegas, levou ao abandono da Sede da Associação de Caçadores, Apicultores e Pescadores dos Covões mais cedo do que alguns quereriam.
Só para terminar: ouvi por lá dizer que a convite dos Amigos do Concelho de Aviz se iria realizar uma parceria entre estas duas associações para se fazer uma matança do porco à moda antiga, aqui nos Covões lá para os princípios de Março. Com tojos e tudo.
Se assim fôr lá estarei…