A
ideia já andava a ser amadurecida há muito tempo. A Amigos do Concelho de Aviz –
Associação Cultural (ACA), segundo o dizer dos seus dirigentes, tenta apostar
sempre no campo da inovação, com actividades que não sejam repetitivas, que não
sejam feitas amiúde por outras associações locais. E, contrariamente ao que
acontecia há uns anos atrás, não muitos, fazer um concurso de pesca aqui no
Maranhão é quase inovar. lembramo-nos de ver centenas de pescadores em cada fim
de semana, que aqui passavam muitas horas de prazer e deixavam algum lucro ao
comércio local: havia sempre quem almoçasse, quem bebesse “umas fresquinhas”,
ou até quem se lhe acabasse o engodo e recorresse ao comércio local para suprir
essa falta. Por razões que não conseguimos explicar as coisas foram-se
modificando e parece que agora o centro da pesca se mudou lá para os lados de Cabeção
e de Coruche. E, a pouco e pouco, a nossa barragem foi caindo no esquecimento. Mas
deixemo-nos de devaneios mais ou menos poéticos e regressemos ao I Convívio Piscatório
da ACA.
A
concentração estava aprazada para as sete da manhã à portada SOPESCA, do amigo
João Cortes. Foi a essa hora que lá chegámos mas até parece que íamos
atrasados: já lá estava mais de 90% dos inscritos. A verdade porém é que tão
pontual é o que chega a horas como aquele que chega adiantado. Pescador que é
pescador é assim: nem dorme…a D. Manuela – esposa do João Cortes - tivera a
feliz ideia de fazer uma boleima e ofertá-la juntamente com umas garrafas de
bebida. E ali mesmo se matou o bicho, se sortearam os pesqueiros e se fizeram
as primeiras conjunturas:
-
Ó pá, ficaste no bico. Tens pesqueiro para ganhares
-
E tu, não te esqueças de pagar! Olha que estes gajos da associação estão sem
massas…
E,
antes mesmo de todos as “bocas” terem sido atiradas para o ar, ala que se faz
tarde. São pouco mais das sete e um quarto da manhã e todos partem, em corrida,
para saberem o que o destino lhes reservou. Antes ainda há quem diga:
- Já disse ao Luís que isto hoje é a brincar e por isso não há desforras para
ninguém.
Estavam
inscritos 29 mas quatro não compareceram: vieram 5 sócios da ACA e 19 não
sócios. Foram feitas as cobranças devidas pela participação na brincadeira e no
almoço. Assim atrasámo-nos e tivemos que ir sozinhos, pese embora o facto de
não sabermos muito bem o caminho. Lá nos explicam o que não sabíamos como se tivéssemos
obrigação de saber o que parecia óbvio.
-
Ai! Querem ver que não sabe o caminho?
-
Saber sei, mas…Quando chegar ao Monte da Carapeta voto à esquerda…
-
Volta à esquerda e vai sempre ao longo dos arames. Encontra um primeiro grupo
de carros que são de gajos que estão lá acampados. Segue em frente que é logo
um bocado mais adiante…
E
lá fomos quase à aventura, em busca do caminho que não sabíamos mas que, ao que
parece, devíamos saber.
Depois
de alguns quilómetros de estrada de alcatrão, sai-se e entra-se num trilho de terra
batida. O rodado recente leva-me a concluir que vamos bem. À esquerda um enorme
milheiral amena a paisagem quase desértica de uma terra torrada por força do
calor deste sol abrasador de verão alentejano.
O
caminho leva alguns minutos a percorrer. Vamos nas calmas. Caramba, se são
agora 07,20h da manhã e a pesca só pode começar às nove horas para quê pressas?
E vamos pensando…
Qualquer
evento é difícil de concretizar. Há toda uma azáfama que foge àqueles que se inscrevem,
pagam e depois querem ser servidos. Esta pescaria não fugiu ao trivial. Dificuldade
em encontrar uma data compatível, dificuldades acrescidas em encontrar um local
para o almoço, com duas associações a pedirem o mesmo espaço e a ACA – por atrasada
– a ficar de fora do referido espaço. Depois o pensar noutro e a boa vontade da
Casa do Benfica em Avis a deixar-nos lá fazer o repasto. Depois os prémios, que
custam dinheiro. A quem os oferece e à ACA. Do lado, da ACA um repetir, quase
até à exaustão, de que não há dinheiro. Do outro lado uma afirmação, de quem
sabe:
- Se não houver uns prémios, não há
participantes. Não havendo participantes não há inscrições, não havendo
inscrições não entre dinheiro fresco na ACA.
E
o tal gajo da ACA que não queria retirar nada das inscrições lá acaba por
ceder. A corda parte sempre do mesmo lado: o mais fraco... Ao que consta, o tal
que não quer gastar dinheiro à ACA nem tesoureiro é. Feitios…
Continuamos
pelo tal arame farpado e já vislumbramos a água. Sentimos uma alegria quase tão
parecida como sentimos ontem quando o Francisco Alexandre, ele que já foi
Presidente da Direcção da ACA, nos informou que tinha dois troféus para nos
ofertar. Com esta notícia estava garantido o êxito do evento, pelo menos em
termos de prémios. O semítico da ACA descansou mais um pouco e no final, com
mais ofertas daqui mais ofertas dali, arranjaram-se prémios para todos…
E
aqui está o Maranhão com toda a sua plenitude, a nossos pés. As primeiras
tendas de campismo estão ali mesmo numa curva para a esquerda. São demasiado
pequenas. Sentir-nos-íamos lá mal, pelo menos se dormissemos sozinhos…
(devaneios de velhos….).
Mais
uma curva e ali está a rapaziada. Estojos desarmados e peças a pouco e pouco
sendo encaixadas no sítio certo. Mas os pesqueiros estão divididos em duas
zonas. A nossa é mais à frente. Tanto melhor. Mais uns metros para nos deliciarmos
com a generosidade deste mar de água salobra. Nem nos passava pela cabeça a
quantidade de gente que aqui vem passar os fins-de-semana em contacto com algo tão
natural como é a natureza.
- Lá está… aquele é o Rasquete e ali está o
Senhor Marcelino, então nós devemos ficar por perto.
E ficámos.
A
categoria de um pescador conhece-se logo pelo equipamento que tem, pelo modo
como sabe montar esse próprio equipamento e depois pela destreza que demonstra
ao pescar. Quem tem duas canas, apregoa aos quatro ventos e demonstra por "a+b"
que há dezassete anos que não pesca, não pode ser um bom pescador. Mas gosta de
pescar. Lá isso gosta. Imagine-se que o tal que não pescava há dezassete anos
levava ainda um engodo duma marca que dava pelo nome de “SORRAIA” que já deve
ter desaparecido do mercado há muitos anos e batatas cozidas e pão amassado
para pôr no anzol. Assim foi a sorte que teve…
Ainda
bem que não eramos nós que estávamos nessa situação, era o gajo do pesqueiro
nº15...
Arrumados
os estojos, fazem-se os engodos e enquanto uns os peneiram
-
É para que não fique mal amassado, meu caro amigo…
Outros
não se dão a esse trabalho e vão controlando o tempo que falta: dez minutos
antes das nove pode engodar-se.
Como
não faltam dez para as nove mas sim são oito e meia há que cumprir uma parte do
programa: fazer o reabastecimento sólido e líquido. Começa-se na nossa zona: Uma
garrafa de Amarguinha e uma boleima da padaria. Quando chegam ao pé de nós a
amarguinha está quase “vindimada”. Como não chega para todos do outro sector,
opta-se por levar agora ainda boleima mas vinho em vez da aguardente. E lá vamos
nós, não sem que o nosso companheiro de distribuição dê umas fatias de bolo a
duas criancinhas enquanto olha disfarçadamente para as mães das ditas. Vamos de
carro. O tempo urge. Se nos descuidamos não voltamos antes das 10 prás 9.
- Domingos, Francisco, Luís, vamos a isto. Um Abreu
Callado cai sempre bem a esta hora.
E
houve quem bebesse e houve quem dissesse que se bebesse um “penalty” daqueles
ficava já arrumado para o resto do dia. Voltámos com muito vinho e pouca boleima.
O nosso companheiro de distribuição de sólidos e líquidos foi dar uns
bocadinhos de boleima às mães das tais crianças – é claro que tinha de ser, era
irrecusável…- mas desta vez não olhou
para as petizes….
E
chegaram as dez para as nove e como que numa vingança que se quisesse ali
afogar naquelas águas agitadas pelo vento, cada qual arremessou mãos cheias de engodo
feito em bolas. E se calhar, naquele momento alguns até rezaram para que a
pescaria lhe corresse de feição.
Entretanto
já há algum tempo que chegara o Xico Alexandre que, por não estar inscrito,
começara desde logo a pescar e…a apanhar.
- Um bom pescador nem precisa de engodo. Quem sabe,
sabe, dizia, este mesmo Xico Alexandre que mais tarde haveria de ir buscar o
neto para lhe dar “uma lição de bem pescar em toda a barragem do Maranhão”. E
então não é que o “puto” se convenceu que o avô sabia pescar? Ainda há crianças
muito inocentes.
Passemos
adiante, mais depressa que as longas quatro horas passaram. Pelo menos para
nós. Com a mania de que o barulho do vento a passar no elástico esticado é
música sagrada para os nossos ouvidos, dedicámo-nos à pesca das carpas, quando
tudo se dedicava à pesca das tai “abletas” ou lá o que são aqueles peixinhos mixurucas…
Ao
nosso lado, alguém se ia amanhando entremeando muitas “abletas” com algumas
carpas. Nós ficámo-nos muito contentes com a música que três capríneos nos
deram. Foi pouco, mas foi o que foi.
O
vento moderado a forte, soprando de frente/lado esquerdo faz quanta força pode
para nos contrariar. Um amigo ainda nos aventa:
- Você leve aqui uma cana das minhas
senão apanha aí uma sova de braços que nem se pode lamber…
Teimosos,
podíamos não nos lambermos mas também não desistíamos. A muito custo chegou a
uma da tarde. Pelo decorrer destas quatro horas lembrámo-nos da outra equipa
que estava de serviço lá no Casão do Benfica. Um trio de luxo, dificilmente
igualável: o Zé Luís no grelhador, o Fernandino nos pratos e o Zé Ramiro nos
tomates. E que rica salada que eles fizeram! Cada qual tem a sua especialidade
e a nós hoje calhou-nos “sofrer” a ver uma boia resistir heroicamente à força
de um qualquer peixe que a quisesse afogar, afundando-a.
E
veio a pesagem e sempre aquele perguntar de alguém mais esperançado:
- Como é que estão as coisas para aquele
lado. Há muito peixe? E o meu pai quanto é que apanhou?
- O seu pai? Quem é o seu pai?
-
O Vinagre..
- A gente já vê.
Ainda bem que se apanhavam peixes e não moscas…
As
instruções eram claras: só se começaria a comer depois de chegar o último
pescador. E assim foi.
Há
quem diga que o almoço é o melhor de qualquer pescaria ou caçada. Não sei se o
foi para todos mas efectivamente aqui a grande maioria dos presentes gostou de
ter vindo.
Depois
dum lauto almoço em que sobrou de tudo menos fome, procedeu-se à distribuição
de lembranças. As tais que sendo poucas ao principio, acabaram ser em
quantidade tal que ainda deu para sortear um prémio entre todos aqueles que
participaram neste convívio. O feliz contemplado tinha o pesqueiro nº 10 e não
fomos nós.
Para
fim de festa as palavras elogiosas para a organização e a promessa de que quem veio
a este I Convívio Piscatório da ACA quererá voltar para o 2º. Da parte da
Organização a promessa de que para o não tudo fará para manter este nível e, se
possível, demover da ideia de se ausentar quem queira partir lá para longe da nossa
terra, para outros convívios de pesca.
Isso
é que é importante!
Como
nota de rodapé, e antes de vos deixarmos algumas fotos deste evento da ACA, aqui
ficam os nomes daqueles que ofertaram os
prémios:
ACA
AVISOURO
BIRRA
CAIXA
GERAL DE DEPÓSITOS
FERNANDINO
LOPES – a)
FERNANDO
MÁXIMO –a)
FRANCISCO
ALEXANDRE
JOSÉ
RAMIRO –a)
MARCELINO
RODRIGUES –a)
SOPESCA
a) – Directores da ACA
E aqui está o Maranhão com toda a sua plenitude
A categoria de um pescador conhece-se logo...
...um engodo duma marca que dava pelo nome de “SORRAIA”...
...batatas cozidas e pão amassado...
- Domingos, Francisco, Luís, vamos a isto...
António Nunes - a concentração em pessoa...
João Venâncio - o representante de Benavila
Raimundo, um dos representantes de Alcórrego que viria a ser o 2º classificado
...alguém se ia amanhando entremeando muitas “abletas” com algumas carpas.
...este mesmo Xico Alexandre que mais tarde haveria de ir buscar o neto para lhe dar “uma lição de bem pescar em toda a Barragem do Maranhão”.
Há quem diga que o almoço é o melhor de qualquer pescaria ou caçada...
...sobrou de tudo menos fome...
Agora segue-se uma galeria de fotografias sem legenda relativas aos pescadores do nosso concelho e segundo a ordem de classificação do mais bem classificado ao último...
E FINALMENTE A HABITUAL FOTO DE FAMÍLIA COM QUASE TODOS OS INTERVENIENTES: