Hoje, a minha ida ao Hospital de S. João de Deus, em Montemor-o-Novo, nada mais seria que apenas mais uma viagem para consulta médica, se a Srª Ministra da Saúde não se encontrasse por lá de visita. À chegada, a minha entrada foi “barrada” por um simpático e delicado funcionário do Hospital que me disse que não poderia estacionar lá dentro mas que “podia ir deixar as senhoras e depois sair”. Assim fiz, entrei, atravessei o parque de estacionamento e saí para ir estacionar numa rua próxima. Até aqui não sabia o que se passava. Ao entrar a pé questionei o tal simpático funcionário da razão daquela restrição de estacionamento, pois se até havia, contrariamente ao que é habitual, vários espaços livres… Foi-me dito:
- Está cá a Ministra da Saúde em visita
Não sabia que era a Ministra mas que tinha de ser alguém “importante” já eu adivinhara dado os vários engravatados que se encontravam à entrada principal do Hospital, acompanhados de algumas damas cujos cabelos tinham passado há muito pouco tempo por mãos de cabeleireiras experientes.
Passada cerca de meia hora lá começou a sair aquele “pessoal” todo, mais os seus condutores, as sua máquinas acelerativas de últimos modelos e alguns sorrisos. Mas, curiosamente, aí um quarto de hora antes, uma senhora elegantíssima, estilo Barbie, saiu em cima de uns generosos saltos altos abanicando as suas excelsas glândulas mamárias ao compasso do seu bamboleante andar: troque…troque…troque.Fiquei na dúvida se o soutien não seria da "Molaflex"... Saiu, como dizia, e entrou só no carro a que o motorista, entretanto, tinha aberto a porta traseira direita. E lá foi, só e contente. (supõe-se). Um carro - uma viajante, maneira de poupar no erário público. Não cheguei a saber qual era o seu papel no meio daquilo tudo.
Mas voltemos aos “outros” que agora já estavam na rua. Depois de alguns beijinhos e abraços a caravana lá se desfez, sendo que a Senhora Ministra até abriu o vidro da sua viatura e fez um adeus com o braço, qual Rainha de Inglaterra (não confundir com o Pinto Monteiro). Nesta altura é que foram elas! Pois bem se se diz que “A voz do povo é a voz de Deus” oiçam uma pequeníssima súmula daquilo que estes meus macerados ouvidos escutaram antes, durante e depois da passagem da Senhora Ministra, não necessariamente por esta ordem:
- Os carros destes gajos são iguais aos dos ciganos: tudo carros grandes!
- E eles não são ciganos? Alguns são ainda piores…
- Olha, lá andam eles com os nossos carros. Sim que nós é que pagamos os impostos para eles passearem à nossa custa!
- Ela devia era ter vindo visitar a parte velha do Hospital, A nova está em boas condições. Devia vir aqui a esta parte, ver as casas de banho…e o resto...
- Olha para isto, se fosse um de nós não podia aqui estacionar que impedia a entrada dos doentes. Estes gajos fazem tudo…
- Estes gajos fazem tudo o que querem e ainda lhes sobra muito tempo…
- E nós a pagar para isto tudo…
- Vocês sabem o que é que a Ministra cá veio fazer? Olhem: veio “inaugurar” uma Unidade de Cuidados Continuados que já está a trabalhar há um ano…
- Nenhum desses gajos e gajas está a ganhar menos de 200 contos por mês…
- Aquele da gravata encarnada, calhando, está dando uma entrevista para algum jornal…
- O Salazar morreu na miséria e deixou os cofres da nação cheios de dinheiro, estes gajos estão lá quatro anos e saem de lá cheios e deixam os cofres cada vez mais vazios…
- Olha a Ministra a fazer adeus e a gente a rir-se para ela. Até parece que vivemos todos muito felizes…
Meus amigos isto foi o que eu ouvi e aquilo que consegui tirar apontamentos. Assim mesmo, sem tirar nem pôr. Mais comentários houve mas como compreenderão não os consegui passar para o papel e já se me varreram.
Para terminar só uma coisa: Ó Srª Ministra da Saúde, se souber que dizem estas coisas de si e dos seus muitos acompanhantes, não leve a mal. São coisas do povo. Sabe que mais? Se fosse eu o Ministro da Saúde em vez da Senhora, era precisamente a mesma coisa…
Valha-nos Deus com estas gentes!