sexta-feira, 26 de agosto de 2011

CESTAS DE POESIA (CLXXXIV)

Numa semana em que César Prata se prepara para nos trazer na sexta-feira, dia 26, pelas 21,30h, no Complexo do Clube Náutico em Avis, as suas Cantigas de cordel; na semana em que se realizará, no próximo sábado, a tradicional Peregrinação a Nossa Senhora Mãe dos Homens; na semana em que o Futebol Clube do Porto se prepara para perder mais uma final da Supertaça Europeia em futebol; numa semana em que na quinta-feira a caixa de multibanco colocada na Junta de Freguesia de Aldeia Velha/Avis foi assaltada com recurso a um maçarico, tendo os assaltantes levado o dinheiro que aquela caixa guardava; na semana em que a GNR anunciou a recuperação de cerca de 1000 metros de fio de cobre roubados dum Pt da Portugal Telecom, em Avis, eis que chega mais uma Cesta de Poesia.
Só os jovens não têm saudades da mocidade. JOSÉ DA SILVA MÁXIMO, não foge à regra. Eis como ele encara este “fenómeno tão”natural" mas tão difícil de aceitar:

É tão linda a mocidade
Mundo verde de ilusão;
Eu morro de saudade
Por esses tempos de então

Brilha o Sol nos corações
Da juventude tão bela!
Só que os pensamentos dela
São como frágeis balões!
Tudo rosas e botões
Na sua tenra idade,
Longe da realidade
Seu coração não tem lida,
Com tanta alegria e vida
É tão linda a mocidade!

Corpos cheios de genica
Olhos meigos de encantar,
Lábios prontos para beijar,
Quanto amor nisso se implica!
Não raro se sacrifica
O querer duma paixão,
Mas em muita ocasião
É um oásis perdido,
Um mundo apetecido
Mundo verde de ilusão.

É pena que o seu vigor
Que Deus lhe quis ofertar
Não venha frutificar
Em obras de mais valor;
Porque só fazer amor,
Desfrutar a liberdade
Sem ter responsabilidade,
Mais tarde são desenganos!
Mas por esses verdes anos
Eu morro de saudade.

No vigor da juventude
Nada se pensa direito;
Não se faz coisa de jeito
Por uma influência rude!
A gente nova se ilude
Sem ter quem lhe dê a mão,
Só depois repara então
Que o tempo passa p’la gente,
E vê como era dif’rente
Por esses tempos de então!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O PROFESSOR DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA

Recebi da minha amiga Francisca Graça este mail que não resisto a partilhar convosco. Pena que não esteja assinado. mas para o caso pouco interessa:

Memórias de uma aula no Liceu de Setúbal



Barreiro, 4 de Outubro de 1967 (Quarta-feira)

Segundo dia de aulas. Continua o desassossego, com o pessoal a trocar beijos, abraços e confidências, depois desta longa separação que foram 3 meses e meio de férias. Estávamos todos fartos do verão, com saudades uns dos outros. A sala é a mesma do ano passado, no 1º andar e cheirava a nova, tudo encerado e polido, apesar do material já ser mais do que velho. Somos o 7.º A e como não chumbou nem veio ninguém de novo, a pauta é exactamente igual à do ano passado. Eu sou o n.º 34, e fico sentada na segunda fila, do lado da janela, cá atrás, que é o lugar dos mais altos.
Hoje tivemos, pela primeira vez, Organização Política e apareceu-nos um professor novo, acho que é a primeira vez que dá aulas em Setúbal, dizem que veio corrido de um liceu de Coimbra, por causa da política. Já ontem se falava à boca cheia dele, havia malta muito excitada e contente porque dizem que ele é um fadista afamado. Tenho realmente uma vaga ideia de ouvir o meu tio Diamantino falar dele, mas já não sei se foi por causa da cantoria se por causa da política. A Inês contou que ouviu o pai comentar, em casa, que o homem é todo revolucionário, arranja sarilhos por todo o lado onde passa. Ela diz que ele já esteve preso por causa da política, é capaz de ser comunista. Diferente dos outros professores, é de certeza. Quando entrou na sala, já tinha dado o segundo toque, estava quase no limite da falta. Entrou por ali a dentro, todo despenteado, com uma gabardine na mão e enquanto a atirava para cima da secretária, perguntou-nos:

- Vocês são o 7.º A, não são? Desculpem o atraso mas enganei-me e fui parar a outra sala. Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também não vos vou chatear

Tinha um ar simpático, ligeiro, um visual que não se enquadrava nada com a imagem de todos os outros professores. Deu para perceber que as primeiras palavras, aliadas à postura solta e descontraída, começavam a cativar toda a gente. A Carolina virou-se para trás e disse-me que já o tinha visto na televisão, a cantar Fado de Coimbra. Realmente o rosto não me era estranho. É alto, feições correctas, embora os dentes não sejam um modelo de perfeição e é bem parecido, digamos que um homem interessante para se olhar. O Artur soprou-me que ele deve ter uns 36 anos e acho que sim, nota-se que já é velho. Depois das primeiras palavras, sentou-se na secretária, abriu o livro de ponto, rabiscou o que tinha a escrever e ficou uns cinco minutos, em silêncio, a olhar o pátio vazio, através das janelas da sala, impecavelmente limpas.
Enquanto ele estava nesta espécie de marasmo nós começámos a bichanar uns com os outros, cada um emitindo a sua opinião, fazendo conjecturas. Às tantas, o bichanar foi subindo de tom e já era uma algazarra tão grande que parece tê-lo acordado. Outro qualquer professor já nos teria pregado um raspanete, coberto de ameaças, mas ele não disse nada, como se não tivesse ouvido ou, melhor, não se importasse. Aliás, aposto que nem nos ouviu. O ar dele, enquanto esteve ausente, era tão distante que mais parecia ter-se, efectivamente, evadido da sala. Quando recomeçou a falar connosco, em pé, em cima do estrado, já tinha ganho o primeiro round de simpatia.
Depois, veio o mais surpreendente:

- Bem, eu sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo dizer-vos que não percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano passado, não foi? Então sabem, de certeza, mais que eu.
Gargalhada geral.

- Podem rir porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas disciplinas, aquelas em que me formei, são História e Filosofia, não tenho culpa que me tivessem posto aqui, tipo castigo, para dar uma matéria que não conheço, nem me interessa. Podia estudar para vir aqui desbobinar, tipo papagaio, mas não estou para isso. Não entro em palhaçadas.

Voltámos a rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele ficou impávido e sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto, calmo, simpático.

- Pois é, não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas absolutamente inúteis e falsas. Tudo isto é uma fantochada sem interesse. Não vou perder um minuto do meu estudo com esta porcaria.

 Começámos a olhar uns para outros, espantados; nunca na vida nos tinha passado pela frente um professor com tamanha ousadia.

- Eu estudaria, isso sim, uma Organização Política que funcionasse, como noutros países acontece, não é esta fantochada que não passa de pura teoria. Na prática não existe, é uma Constituição carregada de falsidade. Portugal vive numa democracia de fachada, este regime que nos governa é uma ditadura desumana e cruel.

Não se ouvia uma mosca na sala. Os rostos tinham deixado cair o sorriso e estavam agora absolutamente atónitos, vidrados no rosto e nas palavras daquele homem ímpar. O que ele nos estava a dizer é o que ouvimos comentar, todos os dias, aos nossos pais, mas sempre com as devidas recomendações para não o repetirmos na rua porque nunca se sabe quem ouve. A Pide persegue toda a gente como uma nuvem de fumo branco, que se sente mas não se apalpa.

- Repito: eu não percebo nada desta disciplina que vos venho leccionar, nem quero perceber. Estou-me nas tintas para esta porcaria. Mas, atenção, vocês é outra coisa. Vocês vão ter que estudar porque, no final do ano, vão ter que fazer exame para concluírem o vosso 7.º ano e poderem entrar na Faculdade. Isso, vocês tem que fazer. Estudar.
Para serem homens e mulheres cultos para poderem combater, cada um onde estiver, esta ditadura infame que está a destruir a vossa pátria e a dos vossos filhos. Vocês são o amanhã e são vocês que têm que lutar por um novo país.
Não vão precisar de mim para estudar esta materiazinha de chacha, basta estudarem umas horas e empinam isto num instante. Isto não vale nada. Eu venho dar aulas, preciso de vir, preciso de ganhar a vida, mas as minhas aulas vão ser aulas de cultura e política geral. Vão ficar a saber que há países onde existem regimes diferentes deste, que nos oprime, países onde há liberdade de pensamento e de expressão, educação para todos, cuidados de saúde que não são apenas para os privilegiados, enfim, outras coisas que a seu tempo vos ensinarei. Percebem? Nós temos que aprender a não ser autómatos, a pensar pela nossa cabeça. O Salazar quer fazer de vocês, a juventude deste país, carneiros, mas eu não vou deixar que os meus alunos o sejam. Vou abrir-lhes a porta do conhecimento, da cultura e da verdade. Vou ensinar-lhes que, além fronteiras, há outros mundos e outras hipóteses de vida, que não se configuram a esta ditadura de miséria social e cultural.
Outra coisa: vou ter que vos dar um ponto por período porque vocês têm que ter notas para ir a exame. O ponto que farei será com perguntas do vosso livro que terão que ter a paciência de estudar. A matéria é uma falsidade do princípio ao fim, mas não há volta a dar, para atingirem os vossos mais altos objectivos. Têm que estudar. Se quiserem copiar é com vocês, não vou andar, feita toupeira, a fiscalizá-los, se quiserem trazer o livro e copiar, é uma decisão vossa, no entanto acho que devem começar a endireitar este país no sentido da honestidade, sim porque o nosso país é um país de bufos, de corruptos e de vigaristas. Não falo de vocês, jovens, falo dos homens da minha idade e mais velhos, em qualquer quadrante da sociedade. Nós temos sempre que mostrar o que somos, temos que ser dignos connosco para sermos dignos com os outros. Por isso, acho que não devem copiar. Há que criar princípios de honestidade e isso começa em vocês, os futuros homens e mulheres de Portugal. Não concordam?
Bem, por hoje é tudo, podem sair. Vemo-nos na próxima aula.

Espantoso. Quando ele terminou estava tudo lívido, sem palavras. Que fenómeno é este que aterrou em Setúbal?
Já me esquecia de escrever. Esta ave rara, o nosso professor de Organização Política, chama-se Zeca Afonso.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CESTAS DE POESIA (CLXXXIII)

Numa semana em que me apetece falar de futebol…vou falar de futebol. Numa semana em que o árbitro João Ferreira pediu escusa para arbitrar um jogo do Sporting Clube de Portugal (e se todos os árbitros se solidarizassem com este colega e pedissem igualmente escusa? Sereia a única maneira do Sporting ser Campeão, pois que nunca perderia…); na semana em que vi e ouvi uma coisa que não gostei na Casa do Benfica em Avis ( passo a explicar: a Casa do Benfica é o local onde os benfiquistas se juntam para em conjunto viverem as glórias e as derrotas do seu clube. Pode não se gostar do modo como o Benfica joga, pode até discordar-se do modo como o treinador Jorge Jesus gere o plantel dos encarnados, mas não se pode de modo nenhum é chegar ao ponto de se insultarem os jogadores com um rotundo “Filho da Puta” dito alto e bom som como ouvi esta semana na Casa do Benfica em Avis); numa semana em que a selecção nacional de futebol sub-21 está na final e com fortes hipóteses de se sagrar campeã mundial da modalidade (falta ultrapassar o Brasil, o que acontecerá - ou não - amanhã) eis que chega mais uma Cesta de Poesia.
Com a maestria que já nos habituou, JOSÉ DA SILVA MÁXIMO, vai enchendo de perfume poético as sextas-feiras “DO CASTELO”.
Quem é que ainda não sentiu, ao menos uma vez, faltarem-lhe as forças? Eis aqui como tudo acontece, pela pena do nosso poeta convidado:

De um para outro momento
Perde o homem o seu vigor;
Falta-lhe a força, o alento
P’ra fazer seja o que for.

Será que o homem é valente
Cada vez que necessita
E sempre que solicita
As forças que ainda sente?
Não será suficiente
A força do seu talento!
Se não está a cem por cento
Há sempre o inesperado,
Fica impossibilitado
De um para outro momento.

Passam anos, passam dias
Quase não se vai notando
Que o corpo se vai vergando
E vai perdendo energias;
São menos as alegrias,
E menor o seu valor,
O prazer se vira em dor
Com o avançar da idade,
P’ra trás fica a mocidade
Perde o homem o seu vigor.

Já teve uma vida sã,
Já foi forte e destemido,
Se hoje não está deprimido
Nunca se sabe amanhã;
Se a esperança não é vã,
Se tudo vem de contento,
A falta de deprimento
São forças que ainda tem,
Mas p’ra chegar mais além
Falta-lhe a força, o alento.

Sempre que isso lhe acontece
Ao perder sua energia
Fica de dia p’ra dia
Mais lento do que parece;
Tenta esquecer mas não esquece
Não sente o mesmo calor,
Até mesmo no amor
Nada há que o conforme,
Desenvolve o esforço enorme
P’ra fazer seja o que for!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

FUI A SANTANA ( DE PORTEL)

Sábado. Dia 13 de Agosto de 2011.
Se gosta do Alentejo venha comigo. Se não quiser ou não possa vir, peça a alguém que lhe leia estas linhas e feche os olhos. Depois de ouvir, abra-os e veja se as fotos coincidem com a descrição que ouviu.
 Tomamos a estrada que de Évora nos conduz a Sul. Reguengos? S. Mansos? Monte de Trigo? Portel? Vidigueira? Beja? Ná! Nada disso. Cortamos à direita para a Torre de Coelheiros. Deixamo-nos perder a vista pelos campos sem fim e por uma estrada em recta que mais parece não ter final. Passamos por Torre de Coelheiros pela rama. Só de passagem, parece que as terras ainda são mais pequenas do que na realidade são. Mais uns quilómetros. Avançamos não sem antes travar para ver mais de perto uma bela novilhada “ desmamada e pronta para a cobrição” no dizer do meu colega de viagem. a paisagem é soberba para quem gosta do Alentejo. É o nosso caso.  À frente um toiro bravo mostra a sua altivez. Põe-se em pose. Fotogénico. Lá ficou e nós lá fomos. Proximidades de Oriola e da Barragem do Alvito. Aí cortamos à esquerda e depois á direita para Santana. De Portel. Santana de Portel. Ao chegarmos uma placa indica-nos Portel para a esquerda e a Junta de Freguesia e os Correios e o Cemitério para a direita. Desço. Não sei, talvez por causa do cemitério, vou para a esquerda. Sozinho. O meu companheiro de viagem foi trabalhar.
Ninguém sabe ou imagina sequer como me é agradável passear, sem tempo controlado pelo relógio, à descoberta destes pequenos povoados alentejanos. Pouco passa das cinco da tarde e o tempo está abafado. Custa a respirar. Pouca gente a mexer. Ainda é hora de sesta. Junto a um parque/café lá está a água, tão bem-vinda neste tempo de canícula. Mais à frente duas preciosidades: um lavadouro público com a indicação expressa de que “ Lavagem de mantas e cobertores só às terças e quartas feiras”. Um portento! Mais á frente uma enorme placa anunciando as saudades que deixaram as festas em honra de Santa Ana, realizadas em Julho de 2009…
A aldeia acaba ali para aquele lado. Mas há outro lado. Sempre tenho que ir em direcção ao cemitério. E vou. As ruas lá estão tipicamente alentejanas : casas térreas “debruadas” a amarelo, azul ou até verde…um mimo! Um ou outro idoso já se começa a aventurar a vir até algum banco à sombra. Não há jovens. Não se veem jovens. Cumprimento e pergunto para que lado é a Igreja. Indicam-me e sigo subindo a Rua da Estação. Chegado ao topo não vejo restos ou sinais de qualquer estação. Perscruto no horizonte e nada. Mas o nome está lá: Rua da Estação. Descubro a Igreja, imponente na sua traça. Está fechada e o relógio tem os ponteiros parados nas seis e trinta e cinco. Mas trabalha que o bater das seis datarde foi dado com grande sonoridade nos altifalantes colocados no cimo da ermida.
Por aqui, por Santana (de Portel) há quem deixe as suas impressões pessoais à porta: uma renda bonita numa porta antiga deixa antever umas mãos de fada (talvez também antigas); uma caixa de correio com a inscrição “BRIEFKASTEN”, deixa antever a existência de algum emigrante; uma bilha de barro lá bem no alto de um telhado, poderá ser sinal de promessa para que a água nunca falte neste Alentejo ressequido; uma placa não identificada cheira a que ali mora uma família cujo apelido está escondido com o rabo de fora…; uma caveira num quintal, poderá ser sinónimo de desesperança por parte de quem já muito lutou pela vida…e nã vê melhorias.
De novo a Rua da Estação. Ao fundo da subida. Dois idosos, meus colegas, tentam refrescar-se com uma leve brisa que começa a soprar. Saúdo.
- Boa tarde, amigos. Tá quentinho…
- Santas Tardes! Pois tá, mas ontem teve mais esbrasiado…hoje há um ventinho…
- Digam-me lá: esta é a Rua da Estação. Houve aqui alguma estação? …dos caminhos de ferro?
- Ná. Nã senhori. Aqui nunca houve acomboio..
- Mas tendo o nome de Rua da Estação…, insisto.
- Nã sê. Aqui desde que me conheço que chamam aqui a isto a estação e essa é a Rua da Estação. Vossemecê pergunta muito bem mas não sabe a quem, como se acostuma dizeri… diz o meu novo amigo, entre uma risada e uma cuspidela com restos de tabaco mastigado sem querer, sinal evidente dum cigarro mal feito.
-Boa tarde Zé. Então e o tu pai? Tá melhori?..
- Olhe lá está na horizontal…
- Tá melhori?
- Tá no Hospital de Beja. Tem uma pedra no rim e agora descobriram outra na bílis…se calhar era por isso que ele tinha aquelas avomitações…
Este, o filho do pai que está no Hospital de Beja, tem sotaque de emigra. Quem sabe será o dono da tal casa que tem a tal caixa de correio…
- Já hoje estive. Vim de lá há bocado. Fiz-lhe a barba que há lá um barbeiro mas eu que lha fiz…deixe-lhe um bigote…
O filho do pai que está no hospital de Beja afasta-se ao fim de algum tempo de conversa. . Um dos ficantes diz:
- Coitado” o pai deste também nasceu para sofrer…só para sofrer..
Responde o outro ficante:
- É assim, há quem passe uma vida e parece que tudo lhe core bem, outros…
E o primeiro ficante que falara, volta-se para mim e dispara à queima-roupa, como se receasse a presença deste intruso em terras de Santana:
- Vossemecê anda a tirar fotografias, é para alguma reportagem?
Expliquei-lhe o que tinha a explicar e disse-lhe que era de Avis, perguntando de imediato se ele, ficante, conhecia Avis.
- Conheci, sim senhor. Andei lá a trabalhar nuns fornos de carvão…
- No tempo da Cooperativa?, tento adivinhar…
- Nã senhori. Muito antes do 25 de Abril…
Agora que a conversa prometia, eis que chega o meu companheiro e minha boleia nesta investida por terras de Portel, por terras de Santana.
Quem sabe um dia não hei-de voltar…nem que seja para rever aos locais que deram lugar às fotos que abaixo vos deixo...



Foto 1: " Deixamo-nos perder a vista pelos campos sem fim ..."
Foto 2: "... uma bela novilhada “ desmamada e pronta para a cobrição”...

Foto 3: "À frente um toiro bravo mostra a sua altivez."


Foto 4: " Junto a um parque/café lá está a água,..."

Foto 5: "  Lavagem de mantas e cobertores só às terças e quartas feiras”.
Foto 6: " uma enorme placa anunciando as saudades que deixaram as festas em honra de Santa Ana..."


Foto7: " As ruas lá estão tipicamente alentejanas ..."
Foto 8: " Descubro a Igreja, imponente na sua traça."

Foto 9: "   uma renda bonita numa porta antiga ..."

Foto 10: "...uma caixa de correio com a inscrição “BRIEFKASTEN”,..."

Foto 11: "...uma bilha de barro lá bem no alto de um telhado..."

Foto 12: " uma família cujo apelido está escondido com o rabo de fora..."
Foto 13: "   uma caveira num quintal, poderá ser sinónimo de desesperança ..."

terça-feira, 16 de agosto de 2011

ALCÓRREGO EM FESTA!

Foto 1:  " São cerca de vinte elementos mas valem por duzentos!"



Foto Nº 2 :"  A bandeira exposta em local bem visível..."

Foto 3: " O público ora ouve em silêncio profundo..."

Foto 4: " De registar o acto simpático da Amigos do Concelho de Aviz - Associação Cultural..."

o cerca de vinte elementos mas valem por duzentos! Ontem, dia 15 de Agosto, estiveram em palco (curiosamente) quinze! A bandeira exposta em local bem visível, deixa-nos facilmente antever de que estes são os elementos do GRUPO DE CANTARES DE ALCÓRREGO, que integram a Associação de Solidariedade de Reformados Pensionista e Idosos de Alcórrego (ASRPIA).
Tivemos o privilégio de ter assistido à apresentação pública oficial deste grupo. Já antes tinha havido duas presenças fugazes em público mas o dia 15 de Agosto marca efectivamente o dia do lançamento e o dia em que – no dizer do Sr. José Matono, presidente da ASRPIA, “Já podem começar a receber convites para actuarem em qualquer lugar”.
Alguns elementos denotavam algum nervosismo. Além dos ensaios não serem tantos quantos os desejáveis, por causa das despesas e sempre por causa das dificuldades económicas que as associações atravessam, acrescia a responsabilidade da apresentação ser feita em casa, perante o seu público mais fiel mas quiçá o mais crítico. Ao olharmos para o palco vemos, sentimos, como a partir do primeiro compasso aqueles homens e mulheres se soltam, se entregam de alma e coração, vivendo com entusiasmo o que estão a fazer. As vozes vibram. Tocam-nos a alma. Sublimes. O público ora ouve em silêncio profundo, embevecido, ora acompanha em coro as canções que melhor conhece. E bate palmas entusiásticas. Ritmadas. Gostosas.
Para a história fica este dia de lançamento de um grupo que canta entre outras canções e modas, a “Açorda Alentejana” com versos dessa poetisa tão querida que é a minha conhecida e amiga ROSA DIAS, de Campo Maior.
De registar o acto simpático da Amigos do Concelho de Aviz - Associação Cultural, ter oferecido uma lembrança para ficar a perpetuar este dia de festa.
“DO CASTELO”, endereça os parabéns a todos que acarinham este projecto, certo que o mesmo terá, melhor, tem, pernas para andar.
Assim os Homens queiram.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cestas de Poesia CLXXXII)

Na semana em que começou a disputar-se a Liga de Futebol, com o Benfica a oferecer dois pontos à concorrência; na semana em que esse mesmo Benfica jogou só com um português em 13 jogadores utilizados, enquanto na classificação geral da volta a Portugal em bicicleta, nos primeiros dez classificados da geral há 9 (nove) portugueses; na semana em que, repito, o contentor de recolha de vestuário junto à casa do Benfica, em Avis, já se encontra despejado de modo a poder recolher mais roupas e calçado; na semana em que a maioria, incluindo eu, pensava que o Ministro das Finanças vinha anunciar cortes na “gordura” do estado, eis que o mesmo ministro nos vem anunciar o aumento do IVA de 6 para 23% em matérias tão necessárias como o gás e a electricidade; na semana em que foi tornado público a realização do V Encontro de Poetas Populares no Concelho de Avis, a realizar em 10 de Setembro, em Alcórrego, eis que chega a nossa “Cesta de Poesia”.
JOSÉ DA SILVA MÁXIMO, não gosta de noites escuras (quem sabe se pelo motivo de em noites escuras se ter de gastar mais gás e mais electricidade para nos alumiarmos…). Apesar de neste momento nos estarmos a aproximar da fase de Lua Cheia, aqui fica o “queixume” do poeta, para conferirmos lá mais para daqui a quinze dias, na Lua Nova…

Uma noite sem luar
É atroz e dá tristeza;
É medonha e faz pensar
Mistérios da natureza

A noite encobre as maldades
E em certas ocasiões
Até encobre os ladrões
Dá-lhes oportunidades;
Mesmo nas localidades
Onde há luzes a brilhar,
Há sempre horas de azar
Que enfrentá-las não desejo,
Entristeço quando vejo
Uma noite sem luar.

Noite sem ter claridade
É demasiado insegura
Para qualquer criatura
Seja no campo ou cidade;
Até provoca ansiedade
É tudo a vã incerteza
Não tem nenhuma beleza
Noite escura, enevoada,
Não convida mesmo nada
É atroz e dá tristeza.

Se depois do Sol partir
A Lua estiver brilhando
É tão bom de vez em quando
Ir ao campo e distrair!
O ar puro usufruir,
No silêncio a passear
Mas se a Lua não brilhar
Não há mais motivação,
Entristece o coração,
É medonho e faz pensar.

Noite escura me sufoca,
Me lembra a todo o momento
Que nesse escurecimento
Há lobos fora da toca!
Os medos que me provoca
São duma estranha rudeza,
Pois penso ver com firmeza
Os lobisomens uivando,
Ou as bruxas espalhando
Mistérios da Natureza.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

EM BOM PORTUGUÊS

O "Português" enquanto língua escrita e falada, vai estando cada vez mais mal tratado. Ora vejam aqui alguns "mitos" que convém desfazer.
Clique e delicie-se:

domingo, 7 de agosto de 2011

E você sabe o que é a OAOA?

A Praça Serpa Pinto revitalizou-se. Ali bem em frente do Posto de Turismo, uma simpática placa, diga-se que elaborada com muito requinte, indica-nos onde abriu a OFICINA de ARTES e OFÍCIOS de AVIS (OAOA). Por iniciativa da JUNTA DE FREGUESIA DE AVIS, e muito devido à dinâmica da sua Presidente e seus conselheiros mais directos, nasceu esta Oficina no seguimento da bienal Art’Avis – I Feira de Artesanato Urbano de Avis. Na novel Oficina podem os artesãos avisenses mostrar as suas obras, além de possuírem um espaço para trabalhar ao vivo. Por lá podem ser vistos trabalhos de cortiça, de cabedal, artesanato em papel de jornal, rendas, roupinhas bonitas e tudo o mais que os artesãos acharem por bem expor.
Por compromissos anteriormente assumidos (nunca vi uma desculpa assentar tão bem para justificarmos uma ausência que por vezes não tem nada ver com compromissos anteriormente assumidos, a não ser o compromisso de lá não ir…o que não foi o caso, diga-se de passagem...), por compromissos anteriormente assumidos, dizíamos, “DO CASTELO” não pôde fazer a reportagem, aquando da inauguração deste espaço, ocorrido no passado dia 28 de Julho, como seria sua intenção. No entanto já visitou o local e dá os parabéns, na pessoa da jovem Presidente Dr.ª Anabela Canela, a todo o elenco da Junta de Freguesia de Avis, pela ideia e mostra-vos abaixo algumas imagens do que poderão por lá encontrar:
ANIBAL FERNANDES, expõe uma pequena mostra dos quase 200 exemplares que constituem a sua riquíssima colecção de elefantes, não sem antes nos explicar o porquê desta iniciativa; os cestos que por lá há, mais parece serem de verga quando afinal são de papel (ver par crer); há rendas e bordados; a parede da frente está “forrada” de uma renda colocada pela amiga Rute Reimão (digna de se descobrir); António Bonito, poderia lá faltar nestas “andanças” do artesanato e trabalhos de mais uma boa meia dúzia de jovens artesãs cujas obras merecem toda a nossa atenção. Curiosamente escasseiam os jovens artesãos…
A oficina já está aberta todos os dias da semana, inclusive feriados e fins-de-semana, das 9h às 13h e das 14h às 17h.
Quando ali passarem, entrem, não finjam que não vêem que há ali algo de novo.

Informação: Registamos com agrado que o contentor receptáculo de vestuário e calçado junto às imediações da Casa do Benfica em Avis, já foi despejado.
Foto 1: "...uma simpática placa... indica-nos onde abriu a OFICINA de ARTES e OFÍCIOS de AVIS."


Foto 2: "ANIBAL FERNANDES, expõe uma pequena mostra dos quase 200 exemplares que constituem a sua riquíssima colecção de elefantes,..."

Foto 3: "... o porquê desta iniciativa"

FOTO 4: "... trabalhos de mais uma boa meia dúzia de jovens artesãs ..."

Foto 5: "... há rendas e bordados..."

Foto 6: "...António Bonito, poderia lá faltar nestas “andanças..."





Foto 7: "...os cestos que por lá há, mais parece serem de verga quando afinal são de papel..."


Foto 8: "...a parede da frente está “forrada” de uma renda colocada pela amiga Rute Reimão (digna de se descobrir)"


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CESTAS DE POESIA (CLXXXI)

Na semana em que 14 mercenários (nenhum português jogou!!!!!) ao serviço do Benfica conseguiram passar a fase de Play-off de acesso à Taça dos campeões Europeus; na semana em que ainda hoje de manhã o contentor -receptáculo de roupas que se encontra nas imediações da Casa do Benfica, em Avis, continuava cheio, com roupa espalhada no chão; na semana em foi arrancada a figueira que há muitos anos tentava vingar no topo sul da Torre da Rainha; na semana em que foi inaugurada na Rua Joaquim de Figueiredo, nº 6, em Avis, uma exposição de fotografia, da autoria de Ana Velez, intitulada “Arquitectoutras”; na semana em que foi mostrado no Auditório Municipal de Avis, o exercício final dos Formandos do Percurso Formativo de Expressão Dramática desenvolvido na Fundação Maria da piedade Varela Dias, em Avis, eis que chega mais uma Cesta de Poesia. Ainda com o poeta popular, JOSÉ DA SILVA MÁXIMO, de santo António das Areias.
Para que não sobrem dúvidas sobre o valor de um beijo, vejamos o que o “MESTRE” em Décimas, nos diz:

Lá por eu te dar um beijo
Apaixonado não estou!
Foi apenas um desejo
Mas depois tudo passou.

Não sei se sou pecador
Nem se beijar é pecado;
Talvez eu tivesse errado
Subestimando o valor;
Seja de que modo for
Repetir já não almejo,
Não alinhes no cortejo
Por estarmos abraçados
Não faças planos errados
Lá por eu te dar um beijo.

Loucuras da mocidade,
Verdes anos de ilusão!
Talvez a ocasião
Fizesse a oportunidade;
Direi que em boa verdade
Já tudo o vento levou,
Nem a saudade ficou
P’ra fazer que outro aconteça,
Por estranho que pareça
Apaixonado não estou!
Foi bom, não posso negar,
Mas nunca chegou a ser
Tão forte p’ra me prender
Nada p’ra me apaixonar!
Muito fácil de olvidar
Um compromisso não vejo,
Uma vez que tive ensejo
Sem nada te prometer,
Não foi amor, podes crer,
Foi apenas um desejo.

Num momento de euforia
Que nem posso perceber
Eu não me pude conter
E dei-te um beijo, Maria!
Não sei se era o que eu qu’eria
Jurar que sim eu não vou,
Mal o beijo se acabou
Não mais veio ao pensamento,
Foi bom aquele momento
Mas depois tudo passou.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

FEIRA FRANCA DE AVIS 2011 - FINAL

Foto Nº 1 - "o “pessoal” dos stands... encostou todo ao lado da sombra..."

Foto Nº 2 - "...os Amigos de Aviz lá iam vendendo os seus livros..."

Foto Nº 3 - "...a exposição colectiva de fotografia chamava a atenção de quem por lá ia passando."

Foto Nº 4 - "...houve quem não pudesse descansar convenientemente ..."

Foto Nº 5 - "...houve quem sem “prestasse” para a “objectiva..."

Foto Nº 6 - "...houve um padrinho que só duma assentada... juntou ali três afilhados..."

Foto Nº 7 - "...por lá passou ... o “Grupo de Cantares do Terreiro da Alegria” ...

Foto Nº 8 - "...e à noite se juntou um público a encher para aí “meia - casa”...

Foto Nº 9 - "...para aplaudir Miguel Gameiro."



Foto Nº 10 - "...toda a ajuda é bem-vinda para fechar convenientemente o Stand ..."




Porque a Feira Franca de Avis, na tarde de Domingo, estava quente o “pessoal” dos stands em que o sol entrava de chapa, encostou todo ao lado da sombra e porque a Feira é local de conversas, conversava-se com os vizinhos, deitavam-se palpites se o dia de Domingo iria ser melhor ou pior que os anteriores.

Porque a Feira é para vender, os Amigos de Aviz lá iam vendendo os seus livros.

Porque a Feira é exposição, a exposição colectiva de fotografia chamava a atenção de quem por lá ia passando. Parabéns aos mentores desta ideia que está a angariar, em cada ano que passa, mais seguidores e amantes da fotografia.

Porque a Feira é tempo de diversão, houve quem não pudesse descansar convenientemente devido aos “brincadeiras” de um a amigo.

Porque a Feira é tempo de recordações, houve quem sem “prestasse” para a “objectiva” com o “objectivo” de mostrar quem é mais fotogénico.

Porque a Feira também é ponto de encontro, houve um padrinho que só duma assentada e num ápice juntou ali três afilhados (ao que consta, se tivesse sido na sexta-feira, juntaria quatro…).

Porque a Feira também é música por lá passou no último dia o “Grupo de Cantares do Terreiro da Alegria” e à noite se juntou um público a encher para aí “meia - casa” para aplaudir Miguel Gameiro.

Porque a Feira também é segurança, toda a ajuda é bem-vinda para fechar convenientemente o Stand (o que ás vezes não é fácil), não vá o diabo tecê-las.

Porque a Feira pode sempre ser melhorada, ainda que em pequeninos pormenores, sugiro o seguinte: o Bairro do Serradão, nos dias de Feira é um amplo parque de estacionamento que quase lota. O acesso ao recinto da feira é feito por umas escadas que há anos se encontram em muito mau estado de conservação. Por ali transitam algumas centenas de pessoas que têm que fazer autênticos malabarismos para não caírem nelas. Apesar da crise, acho que seria fácil e não muito dispendioso, recuperar aquelas escadas de modo a evitar que ali surja algum acidente menos agradável. Fica a sugestão e um ano para as obras...

Porque tudo tem um fim, porque gostei de ouvir o Miguel Gameiro e porque foi com um abraço que Miguel Gameiro chegou e foi com um abraço que Miguel Gameiro se despediu, deixo-vos eu também o meu abraço: AQUI!