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Este tempo de Inverno dá-lhe um aspecto fantasmagórico!"

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"...os suportes de ferro dão o ar de um ser inválido amparado por canadianas..."
O Plátano de Portalegre, está grande…mas está velho.
Com 170 anos feitos, possui uma copa de 38 metros de diâmetro, 111 de perímetro e o seu tronco tem 5,90 de perímetro e mais de 30 metros de altura, tendo sido considerada de interesse público em 1939. Possui a maior copa da Península Ibérica. Foi plantado em 1838 pelo botânico Dr. José Maria Grande. Este tempo de Inverno dá-lhe um aspecto fantasmagórico!
O Plátano do Rossio de Portalegre está enorme.
Cresceu muito nestes últimos 50 anos. Estive ao pé dele na passada sexta-feira e senti-me tão pequenino debaixo dele… Talvez tão pequenino como me sentia nos idos anos 60 do século passado quando, ele e eu éramos ambos mais pequenos. Eu ia a caminho do Liceu Nacional de Portalegre e por ali fazia um descanso. É que estando “hospedado” numa casa situada no então chamado Bairro dos Carteiros, lá para as bandas do Seminário, tinha que percorrer 4 vezes diariamente o trajecto entre a minha casa de hospedagem e o Liceu que ficava precisamente no outro extremo da cidade, lá já para os lados da Fábrica da Rolha, depois de subir toda a Rua do Comércio. A Fábrica da Rolha…era certo e sabido – fumo para a cidade era sinal de chuva por perto.
Quantas histórias terá aquele “monumento vivo” para contar… foi ali, debaixo do plátano, que foi fundada a primeira Sede do Sport Club Estrela. Uma placa colocada junto ao seu tronco relembra-no-lo. As rivalidades entre o Sport Clube Estrela e o Desportivo Portalegrense eram demasiado evidentes: o Estrela era dos “pés descalços” e o Desportivo era das elites. Tiveram ambos o mesmo destino desgraçado. Quantos encontros amorosos por ali se terão combinado, quantos negócios de gado, palhas, sei lá mais o quê!
Se ele, plátano, se lembrasse (mas a memória certamente que já o atraiçoa) recordar-se-ia de um rapazinho franzino que nos tais momentos em que por ali descansava, cansado da distância e do peso dos livros, ia reparando nas bonitas mini-saias e nas belas pernas que elas emolduravam. À altura ainda não tinha chegado a abominável moda das calças. Havia poucas e as que havia eram á boca de sino, que tinham a sua piada mas nada que se pudesse comparar a uma mini-saia bem “encorpada”… Esse rapaz franzino, além de olhar atentamente para as mini-saias também olhava com “inveja” para os colegas estudantes que se davam ao luxo de usar uma capa e batina para levarem para o Liceu. Eram a minoria e eu…pertencia à maioria. Mas sempre sonhara em um dia ter uma capa e batina. Fiquei-me pelos sonhos pois que apesar de nunca ter chumbado nos meus estudos – e de ter sido vários anos aluno de quadro de honra que dava direito a isenção do pagamento de propinas - estes não foram além do Liceu, por motivos económicos, e usar capa e batina num emprego, parece que não ligava lá muito bem. Se duvidarem disto, perguntem ao velho plátano.
Lá mais acima, onde se encontra actualmente o Café do Tarro havia uma cascata, linda de morrer! Mas, como diria um meu amigo de nome João Feio, o vil capitalismo, resolveu destruí-la para dar lugar a um vulgar café. Na cascata faziam-se altares pelo Santos Populares adornados por belos bailaricos. Recordação puxa recordação: e o Jardim da Corredoura? Bonito de se ver, com as suas enormes árvores que no Verão escondiam um ou outro namorico mais adiantado que se conseguia arranjar. Sim, porque nos anos 60 do Século passado, também em matéria de namoricos, as coisas não se passavam como agora. Duvidam? Perguntem ao velho plátano! E ele que vos diga se não é verdade que junto ao monumento evocativo dos Combatentes da Grande Guerra, ali mesmo junto dele, eu lá fui uns anos, em pleno Inverno, de calções e manga arregaçada, integrado num grupo da Mocidade Portuguesa a prestar homenagem àqueles que perderam a vida em defesa da Pátria.
Na passada sexta-feira quando me afastei dele tive pena, muita pena. Pena do seu estado de velhice a que os ferros de suporte dão o ar de um ser inválido amparado por canadianas e pena de eu já ser igualmente um velho que, embora sem canadianas, já não consegue ver as lindas mini-saias que se passeavam pelo Rossio ou que passavam a caminho de casa.
Ser velho é uma tristeza, quer se seja um plátano quer se seja um “cota”!
P.S.: É de toda a justiça que fique aqui registado o modo atencioso como fui atendido por dois funcionários da Loja da Robialac que, por coincidência se situa mesmo junto ao Plátano. Profissionalismo e competência ficam bem em todo o lado mas são cada vez mais uma raridade.