O Alcórrego vestiu-se de negro na passada terça – feira quando o fogo se dirigiu a alta velocidade para aquela localidade. Assisti ao fenómeno de destruição que o fogo proporcionou. Passei por lá na quinta – feira à tarde e ainda havia restos de árvores a arder. Foi mau de mais para ser realidade. De bom nada nestas situações. Ouviam-se queixumes daqueles que apavoradamente tentavam salvar os seus pertences. Parece que o fogo “veio” lá dos lados de Pero de Alter, segundo se dizia e sem se saber como ou porquê. O vento forte depressa o espalhou por todo aquele pasto enorme e seco. Apontavam-se nomes e responsáveis pela não limpeza dos terrenos: uns fugiram para “os Brasis”, outros estão por cá... ninguém quer saber de nada – desabafava-se. Atrás das casas vi autênticas lixeiras com pneus velhos abandonados e, imagine-se, vários capacetes de plástico de protecção usados nas obras. Alguns arderam.
Disse que de bom, nada nestas situações mas é de referir o sentido de solidariedade que estas tragédias trazem ao de cima. Vi gente a tentar minimizar os estragos com mangueiras de jardim que pouco ou quase nenhuma água deitavam. Vi o Pedro Filipe com o seu tractor a fazer aceiros numa prova idesmentível da tal solidariedade. A dona da casa próxima dizia: vi este homem com o tractor pedi-lhe e ele anda ali a passar aquele bocado de pasto. Não o conhecia.
Isto é solidariedade!
De regresso a Avis fi-lo pela Samarra e as valetas estão cheias de pasto seco. Muito pasto, alto, seco, autêntico barril de pólvora à beira da explosão. Não se limpam as valetas, como no tempo dos cantoneiros. Mas há falta de emprego ( não de trabalho)! Este mal não é concelhio, é nacional. Porque não pôr os desempregados a fazer este serviço com o correspondente salário, obviamente. E porque não pôr “alguns” presos a fazer este serviço, com um correspondente salário, pois minimizaria os encargos que acarretam enquanto enclausurados e sem qualquer rendimento laboral. E porque não pôr essa rapaziada do rendimento mínimo (os que já nascem com direito a ele e mais os outros) a fazer esse serviço com o correspondente salário, obviamente.
Enquanto isso não se fizer continuaremos a ter localidades de luto, onde tudo o que a vista alcança é negro e cinza.
Hoje o Alcórrego, amanhã quem sabe as nossas casas...