quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

E JÁ LÁ VÃO DEZ ANOS!!!!


Faz hoje precisamente dez anos que gozei o meu primeiro dia de Reformado. Lembro-me bem que, imbuído da “parvoíce” que sempre me caracterizou ainda fui ajudar os meus colegas que ficaram, a fazer o fecho do fim de ano. Quem burro nasce…
Queria ter saído do meu emprego de outro modo. Saí de cara erguida e mãos limpas, pela porta principal, com a consciência de quem tudo fez para bem duma Instituição que me pagava o ordenado ao fim do mês. A honestidade foi coisa que me acompanhou durante todos os anos em que trabalhei. Ninguém pode, de boa fé, dizer o contrário. Isso é certo, mas ainda poderia ter dado muito a uma profissão que abracei com gosto e deixei com algum pesar. Não me canso de dizer que o que perdi em dinheiro, o ganhei em saúde: eu já não podia ir para o emprego sem ser a “toque” de comprimidos. Mas porquê? dirão vocês. E eu respondo: pelo mau ambiente que lá se vivia à altura, um misto de inquisição e ditadura onde as pessoas eram espezinhadas sem que se pudesse reagir. Não saí só eu nessa altura: fomos três de uma assentada, o que pode ser, e certamente é, bastante sintomático do mau ambiente de trabalho que reinava.
Curioso este desfazer de contas do meu rosário: os meus superiores hierárquicos directos diziam – as palavras são textuais e são deles - que era preciso “injectar sangue novo”. Atendendo à quantidade de porcaria que fizeram depois da nossa saída, (porcaria é um termo muito leve para o que se passou) das duas uma: ou o sangue injectado não era de qualidade, quiçá fosse daquele que a então ministra da Saúde Leonor Beleza tinha importado já contaminado, ou o sangue velho que ficou conspurcou o bom sangue novo recebido.
Não deixa de ser também curioso certo analogias com o que se passa por cá actualmente em instituições onde o mau ambiente de trabalho leva a uma debandada de elementos ainda muito válidos para defenderem as profissões que escolheram e continuarem a desempenhar com denodo as suas funções. Cuidado com o sangue novo…
Não tem nada a ver com o assunto, mas soube ontem que a D. Ana Rosa, a partir de amanhã se encontra desligada dos Serviços do Centro de Saúde de Avis. Para ela os meus parabéns e votos de que possa desfrutar a Reforma com muita saúde.
E para quase todos vós, reformados ou não, que 2009 seja um Bom Ano e que vos traga muita Saúde e aquilo que mais ambicionarem!
Para o ano a gente fala!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

HÁ COISAS COM QUE EU "ENGALINHO"

Foto: Quando eu "engalinho" é quando... dou de caras com a proibição de ocupar três locais de estacionamento, há várias semanas...



O estacionamento no Largo Sérgio de Castro está por norma preenchido. Vindo do lado da Câmara Municipal, lá vou indo eu devagarinho para ver se descubro um lugar para “me meter”. Nada. Está tudo preenchido o que aceito pacificamente. Quando eu “engalinho” é quando chego ao fundo do referido Largo e dou de caras com a proibição de ocupar três locais de estacionamento, há várias semanas (meses???), conforme a foto acima documenta. Por coincidência – só pode ser por coincidência – nunca vi ali ninguém a trabalhar naquele local. Das duas uma: ou andamos desfasados, o que é mais que certo, ou o serviço é ali feito esporadicamente, não se justificando a permanente proibição de lá se estacionar.
Qualquer dia ainda o Fiat Panda que ali encontrou abrigo, recebe ordem de despejo.
Na esperança de encontrar um lugar na Praça Serpa Pinto, lá continuo devagar, olho para a esquerda vejo tudo cheio e olho para a direita e vejo duas coisas: uma boa e outra péssima. Vou começar pela boa: a escassos vinte metros, há muitos lugares de estacionamento junto da Igreja Matriz. A péssima: um sinal de trânsito proibitivo, autêntica aberração – e não é por estar colocado do lado esquerdo da via…- impede-me que para lá vá em linha recta.
Que não se descesse a Rua de S. Roque ainda vá que não vá, mas cortar o acesso à Igreja Matriz num troço de rua com visibilidade mais que suficiente, dá azo a que eu “engalinhe” de novo.
Você tem razão amigo(a): para a próxima vou a pé, pois se calhar até foi esse o espírito do legislador...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

CESTAS DE POESIA ( XLVIII)

Com a última sexta-feira do ano de 2008 termina o "reinado" do poeta JOÃO MOREIRA que de há três meses a esta parte tem preenchido este espaço dedicado à poesia popular.
As décimas que hoje aqui vos deixo, reproduzem bem o estado de alma de quem as escreveu. A vida por vezes é muito dura para nós e leva-nos antecipadamente pessoas de que muito gostamos. A forma de demonstramos a nosssa dor, a nossa tristeza, pode passar perfeitamente pela feitura de umas décimas.
A obra de JOÃO MOREIRA não fica esgotada, simplesmente queremos é dar voz a outros poetas "esquecidos" do nosso concelho.
Eis pois as décimas a que me referi:
Mote:
ESTÁ FRIO MEU CORAÇÃO
PARA AMAR ELE MORREU
AO AMOR JÁ DIZ QUE NÃO
ESTÁ FAZENDO COMO EU


I
JÁ É UMA CIRCUNSTÂNCIA
JÁ SE ENCONTRA SOZINHO
JÁ NÃO ACEITA CARINHO
JÁ NÃO LIGA IMPORTÂNCIA
JÁ VIVE NA IGNORÂNCIA
JÁ ESQUECEU A AMBIÇÃO
JÁ A MIM ME PEDE PERDÃO
JÁ POR MIM FOI PERDOADO
JÁ O SINTO MUI CANSADO
ESTÁ FRIO MEU CORAÇÃO

II
FOI SEMPRE UM BOM LUTADOR
FOI TRANSIGENTE NA VIDA
FOI DE RELAÇÃO UNIDA
FOI SOLIDÁRIO NO AMOR
FOI UM IMPUNE CUMPRIDOR
FOI ESPERANÇA QUE CEDEU
FOI A OFERTA QUE ME DEU
FOI DOÇURA RECEBIDA
FOI RÁPIDA DESPEDIDA
PARA AMAR ELE MORREU

III
É LÓGICO O SENTIDO
É GRAVE O SEU ESTADO
É POR JÁ NÃO SER AMADO
É AGORA ESQUECIDO
É ASSIM DESILUDIDO
É POR ESTA SITUAÇÃO
É QUE FICA SEM RAZÃO
É ESTA REALIDADE
É AUSÊNCIA DE VONTADE
AO AMOR JÁ DIZ QUE NÃO

IV
SE FOI PELA NATUREZA
SE O QUE DE BOM ABALOU
SE TUDO JÁ SE ACABOU
SE É QUE HÁ A CERTEZA
SE ACEITA A TRISTEZA
SE NADA MAIS TEM DE SEU
SE DE TUDO QUE ERA MEU
SE NÃO TEM ALGO PARA DAR
SE É BOM NÃO MAIS ACORDAR
ESTÁ FAZENDO COMO EU

AUTOR: JOÃO MOREIRA DOS SANTOS/AVIS (2000)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O MEU ÚLTIMO PRESENTE DESTE NATAL

Pensara não deixar por aqui mais nenhuma mensagem, já que o essencial eram os votos de boas festas. Mas, a pensar naqueles que acham que o Pai Natal nunca mais chega e como um modo de passarem melhor e mais depressa o tempo, deixo-vos aqui, como prenda de Natal, este jogo deveras interessante.
É só ir tentado acertar e controlando o tempo. Ora vamos lá, toca a "clicar", primeiro no site abaixo indicado e depois no sapato do jornalista. E...boa pontaria:
http://bushbash.flashgressive.de/

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

OS DESEJOS "DO CASTELO"

A minha certeza.

Se o Natal traz esperança
Num mundo com igualdade,
O Natal é da criança
Sem ter limite de idade!

Os meus desejos:


Paz, amor, fraternidade
É mesmo assim que eu o vejo:
Meus amigos de verdade,
Bom Natal eu vos desejo!


A minha oferta:


http://www.youtube.com/watch?v=NF7IOlIjgBY

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

CESTAS DE POESIA ( XLVII)

JOÃO MOREIRA tem dias em que se sente mais deprimido. Por vezes pressente até coisas que não são assim tão evidentes, como aconteceu em 2006.
Ora leiam por favor:

Mote:
A FINAL ESTÁ CHEGANDO
SEM A TER RERQUESITADO
POR ELA ESTOU ESPERANDO
MAS NÃO É DO MEU AGRADO


I
UMA VIAGEM SEM MARCAÇÃO
QUALQUER DIA DÁ CHEGADA
NÃO SERÁ ANUNCIADA
VEM EM QUALQUER OCASIÃO
NUMA ENORME COMPAIXÃO
FICAM OS NOSSOS CHORANDO
ETERNAMENTE REZANDO
POR ALMA DE QUEM VAI PARTIR
QUEM PARTE NÃO VOLTA A VIR
A FINAL ESTÁ CHEGANDO!

II
QUANDO A VIDA DÁ O FIM
MESMO SEM SER DESEJADO
É UM ACTO CONSUMADO
DOLOROSO, MAS É ASSIM
TANTO FAZ SER BOM OU RUIM
SEJA BEM OU MAL FORMADO
QUANDO É JÁ UM FINADO
VAI PARA DEBAIXO DO CHÃO
A MORADA É SOLIDÃO
SEM A TER REQUESITADO

III
NUMA TRISTE EVIDÊNCIA
A MALDITA APARECE
DE NINGUÉM ELA ESQUECE
ATACA COM VIOLÊNCIA,
EMBORA COM ASSISTÊNCIA
QUE A GENTE VÁ LUTANDO
ELA SEMPRE SAI GANHANDO
LEVA-NOS SEM PASSAPORTE
ESSA HORROROSA MORTE
POR ELA ESTOU ESPERANDO

IV
NINGUÉM DEVE AFIANÇAR
QUE A VIDA É SEGURA
QUANTO TEMPO ELA DURA
DE QUE MODO VAI TERMINAR
A MUITA GENTE VAI CALHAR
O RUMO AO MESMO LADO
SE NATURAL OU FORÇADO
TODOS VIVENTES TÊM UM FIM
O MESMO SERÁ PARA MIM
MAS NÃO É DO MEU AGRADO!

AUTOR: JOÃO MOREIRA DOS SANTOS/AVIS (2006)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

TIREM-ME DESTE FILME!

Já o ano passado por aqui deixei expresso o quanto me aborrece esta época de Natal, feito de tanto fingimento e de tanto consumismo. O meu Natal é/foi outro em que as pessoas e os sentimentos eram muito mais puros, em que o Natal não se resumia a uma época de compra de prendas. Confesso que às vezes até me “doem” os ouvidos ao ouvir dizer a pessoas que sei não “entrarem muito na minha carruagem” : Tenha um Feliz Natal e um Bom Ano Novo...
Mas em relação ao consumismo passo a transcrever-vos uma pequena brincadeira que fiz com o Comércio Local. Se me esqueci de mencionar algum lugar onde se possam fazer compras natalícias, das duas uma: ou foi porque me esqueci, ou foi por desconhecimento, ou foi porque…já não aguentei mais!
TIREM-ME DESTE FILME!

Estas compras de Natal,
Este enorme frenesim,
Ainda me acabam mal
Pois vão dar cabo de mim

Detesto esta correria
Deste tempo de Natal,
Vejam que fiz num só dia
Cá no COMÉRCIO LOCAL

Comecei na LOJA GI
Por comprar uns rebuçados
Na FARMÁCIA, logo ali,
Remédio p’ra constipados

Época de consumismo
Redobra-nos o trabalho
Na LOJA DE NATURISMO
Comprei as pílulas de alho

Digo mal à minha vida
E entro em louca correria
Aproveito e vou à GUIDA
E ainda à SAPATARIA

INFORMATICAVISENSE
Um GPS vou comprar:
Não quero que alguém pense
Que os quero discriminar…

O que é que mais aqui fica?
Tento-me eu orientar
Corro à CASA DO BENFICA:
Um cachecol lá fui buscar

Já exausto, que aflição,
Sentindo-me todo roto
Na BITA compro um fogão
Depois meto o TOTOLOTO

Espirro milhões de vezes
Protesto e digo: Irra!
Vou à LOJA DOS CHINESES
E depois entro na BIRRA

Por ficar ali à mão
E ter pouco que esperar,
Lá na LOJA DO JOÃO
Uma bóia vou comprar

Quem é que a mim me diria
Que p’los meus próprios meios
Iria à OURIVESARIA
Logo depois aos CORREIOS?

Não tenho coração que preste
O que eu sou e o que fui:
Fui á loja da CELESTE
E depois à do SENHOR RUI!


Já não anda nem desanda
Este meu corpo mortiço,
Vou à LOJA DA FERNANDA
Mas eu já nem dou por isso!

Ao entrar na Serpa Pinto
Ponho-me a olhar e sismo:
Hei-de fazer o que sinto:
Vou ao POSTO DE TURISMO

Pareço desfalecer
P’ra arranjar algum fulgor,
Bebo uma bica a correr
No CAFÉ DA LEONOR

Agora é só prosseguir
…Descida vertiginosa:
MAR DE IDEIAS a seguir
Depois… MARIA VAIDOSA

Na TERESA DA NOÉMIA
Compro e saio de fugida,
Se não ando na boémia…
SABORES DE AVIS de seguida!

Tenho tanto que fazer
Que nem por sonhos preguiço;
Entro e saio a correr
Na loja da MARI’RIÇO

Sempre a correr pois então
Um maluco eu pareço:
Depois de ir à AVISPÃO
Corro para o MINI-PREÇO!


MINI MERCADO TRAQUINAS
Tenho já que lá passar
Compro prendas p’rás meninas
E depois toca a andar

Já na Zona Industrial
A boca a saber-me a fel,
Maldizendo este Natal
Vou à LOJA DO CHAMBEL

Pareço uma menina,
Até me tremem os dentes,
Na LOJA DA MARCELINA
Compro um limpador de lentes

Foi lá no JORGE TRAQUINAS
Que comprei neste Natal,
Umas das prendas mais finas:
A moldura digital!

Coxeando já dum pé
Vou abalando de vez
Passo na loja que é
Da BÁRBARA GARCEZ

Agora dói-me um joelho,
Que não faz nada o meu jeito,
Na ANABELA COELHO
Comprei um blusão perfeito

Volto p’ra vila enfim
Pensando ir descansar,
Na loja do ZÉ JOAQUIM
Acabo por me sentar

Embora seja demais
Quero cumprir meu fadário:
Na LOJA DOS ANIMAIS
Hei-de comprar um canário!

Vem-me à ideia e …zás!
Abalo de novo a fugir:
SAPATARIA LILÁS
É onde eu tenho que ir

Para fazer mais comprinhas
Já me estava esquecendo
Da dona ANA GARRINHAS
É p’ra lá que vou correndo

Não sendo aquilo que quis,
Pois meu sonho era bombeiro,
Vou à EXTINTOR AVIS
E compro um fato porreiro

Mesmo ao virar da esquina
Compro azevias quentinhas
Na LOJA DA JOAQUINA
Onde são muito tenrinhas

Sinto-me pior da gripe
Mas agora tanto faz
Vou à do PEDRO FILIPE
P’ra comprar um camping gaz

- Rapaz, tu és um dos duros!
Profiro assim, pois então:
Ali na Rua dos Muros
Vou à MARIA JOÃO

Depois cheira-me tão bem
Que procuro com ardor,
E vou onde o cheiro vem:
À Loja da AVIS FLÔR

Mas os presentes são tantos
Que a coisa já não encaixa:
Falta-me visitar os BANCOS
A que também chamam CAIXA

Com frio nos “interiores”
Fui a correr à SAUDADE
Comprar um ramo de flores
Para morrer á vontade

- Agora me lembro, c’o a breca!
Esqueci-me d’ir a um lado:
Faltou-me a BIBLIOTECA
Vou fugir mais um bocado!

Entrando na “desportiva”
P’ra que coma e aproveite,
Entrei na COOPERATIVA
Levei uns litros de azeite

E sempre, sempre a correr
Chego a casa tão cansado
Ansioso por fazer
Um repouso descansado!

Minha mulher não sabendo
Destes meus preparativos
“Malandreca”, vai dizendo:
- Trouxeste os preservativos?

Se correr mais não aguento
Quanto mais ir copular…
- Mulher, dá-me o mantimento
E deixa-me ir já deitar!

Mas ela por não saber
Como eu detesto o Natal
Acaba por me dizer
Mais uma ordem final:

- Vens com cara de fuinha
Para baixares o cabelo,
Vai-te meter na carrinha
Para irmos ao MODELO…


*********************************
Devo de ter desmaiado
E enquanto isto não mude,
Quero ficar internado
Lá no
CENTRO DE SAÚDE!

domingo, 14 de dezembro de 2008

AMIGOS DE AVIZ ORGANIZAM JANTAR DE NATAL

Realiza-se no próximo Sábado, dia 20 de Dezembro, o Jantar de Natal da Amigos do Concelho de Aviz – Associação Cultural, no Salão da Junta de Freguesia de Ervedal, a partir das 20 horas. Os interessados ainda estão a tempo de se inscreverem junto de qualquer responsável da ACA ou através do mail: acavis@sapo.pt, segundo informação que foi facultada a “DO CASTELO”
Não deixa de ser interessante como é que uma Associação de cariz cultural, consegue juntar num são convívio, alguns dos seus associados e respectivos familiares directos – consta-se que já há mais de 60 inscrições - num jantar de Natal, a pagar, quando há cá na terra Instituições em que os “trabalhadores/colegas”, sendo poucos e a cumprimentarem-se (?) diariamente, não conseguem transpor o espírito natalício para actos concretos como seja um jantar de Natal.
Às vezes até parece que quanto mais se bate com a mão no peito a fazer o sinal da cruz ou o “mea culpa” do Acto de Contrição, mais perto se está do demónio, e mais se consegue “infernizar” a vida dos outros.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Concurso de Fotografia: "BARRAGEM DO MARANHÃO - UMA PAISAGEM, UM POVO"

Foto 1 - "PASTOREANDO" - 1º PRÉMIO
Foto 2 - PAINEL DAS FOTOS DISTINGUIDAS



Realizou-se ontem, cerca das 18 horas, no Museu Municipal de Avis, com a presença do Sr. Presidente da Câmara, do Sr. Vereador do Pelouro da Cultura e alguns dos participantes, a divulgação das fotografias concorrentes ao concurso respeitante aos 50 anos da Barragem do Maranhão cujo tema era: “BARRAGEM DO MARANHÃO – UMA PAISAGEM, UM POVO”, iniciativa do Município local. Os dezoito concorrentes participantes (amadores e profissionais) conseguiram obter uma quantidade de fotografias impressionantes de belezas e oportunidades. Não deve ter sido tarefa fácil para o júri escolher entre tanta qualidade, aquelas que consideraram merecedoras de distinção.
Para que conste fica a lista do nome dos premiados:

PRÉMIOS:

1º - FERNANDO MÁXIMO
2º - ANA MARTINS
3º - DINIS MUACHO

MENÇÕES HONROSAS:

ANA GRILO
ANTÓNIO CALHAU
LUÍS TEIXEIRA
FERNANDO BATISTA
FRANCISCO MARTINS
SÉRGIO PEREIRA


Se gosta de fotografia passe pelo museu e aprecie as belezas da nossa Barragem vistas por objectivas diferentes da sua.
Como referi deve ter sido difícil escolher qual a melhor foto. Por mim, acho que havia fotos muito mais agradáveis à vista do que a vencedora. Mas, é bom não esquecer que havia um tema base para este concurso e passo a chamar a atenção para pormenores da foto vencedora (à qual tive acesso) que decerto influenciaram a decisão do júri.
Reparemos:
Desde logo um Povo (Pastor) que retira algum proveito da Barragem, pois é ali nas margens da Barragem do Maranhão que à altura havia pastagens para a suas ovelhas. Lá ao fundo o que foi a Fábrica do Tomate – SULEI – que laborava 24 horas por dia, em épocas de campanha, na transformação do tomate plantado, crescido e regado nas margens da Barragem e com água desta, dando trabalho a muito “povo” do nosso concelho. Mais perto o que resta do Restaurante o Retiro da Ponte – por ali passaram milhares de visitantes para satisfazerem os estômagos, depois de se terem extasiado com as belezas da nossa Barragem, deixando aqui alguma riqueza. A ponte: paisagem alterada por força da existência das águas da Barragem. À direita (vê-se por baixo da ponte) a casa do Sr. Borges, com vista privilegiada sobre a vila, local paradisíaco sobranceiro à Barragem, que pesou certamente na sua construção naquele local. Aqui mais perto a existência de uma bomba de água que retira ainda o precioso líquido para regar o olival que não se vendo na foto, existe e por certo ali foi plantado por força da existência da Barragem e da sua água que está tão perto. Por fim, tudo “misturado” traduz-nos aquilo o que é a “BARRAGEM DO MARANHÃO – UMA PAISAGEM, UM POVO”.
Estas são as razões que me levam a pensar que o Júri optou por esta e não por qualquer das outras magníficas fotos submetidas a concurso.
“DO CASTELO” dirige parabéns a todos os concorrentes e à Edilidade, por esta iniciativa.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

CESTAS DE POESIA (XLVI)

De convicções políticas bem definidas, JOÃO MOREIRA escreveu em 2005 as décimas que hoje preenchem esta "Cesta de Poesia".



Mote:
VASCO GONÇALVES MORREU
E TAMBÉM ÁLVARO CUNHAL
ESSE DUO QUE MUITO DEU
PARA LIBERTAR PORTUGAL


I
PARTIRAM NA MESMA ALTURA
LEVARAM CONSIGO A GLÓRIA
DEIXARAM CÁ UMA VITÓRIA
A DERROTA DA DITADURA
ACABARAM COM A CENSURA
MUITO DE BOM ACONTECEU
FOI ABRIL QUE NOS OFERECEU
MERECIDA DEMOCRACIA
MAS AGORA CHEGOU O DIA
VASCO GONÇALVES MORREU

II
CUNHAL GRANDE ESTADISTA
EM CAXIAS PRISIONEIRO
SEM ARMAS FOI GUERREIRO
UM GRANDE ATI-FACHISTA
NA PINTURA FOI ARTISTA
FOI ESCRITOR MONUMENTAL
UM GRANDE INTELECTUAL
COMO ELE MUITOS FICARAM
MAS ALGUNS JÁ NOS DEIXARAM
E TAMBÉM ÁLVARO CUNHAL

III
SOARES REFERENCIADO
TAMBÉM ELE GRANDE LUTADOR
NO ESTRANGEIRO PROFESSOR
EM CONDIÇÃO DE EXILADO
LUTOU CONTRA O NOVO ESTADO
ESSA LUTA TAMBÉM VENCEU
A ESPERANÇA APARECEU
QUE SE VEIO A CONCRETIZAR
É NOSSO DEVER ELOGIAR
ESSE DUO QUE MUITO DEU

IV
GENERAL HUMBERTO DELGADO
EM ESPANHA O MATARAM
OS PIDES O ASSASSINARAM
FOI HOMICIDIO CONSUMADO
NÃO FICOU ASSIM TERMINADO
O REPRESSOR ERA ESTATAL
MAS FOI REPRIMIDO AFINAL
COM A AJUDA DOS CAPITÃES
IMPUSERAM DETERMINAÕES
PARA LIBERTAR PORTUGAL

AUTOR: JOÃO MOREIRA DOS SANTOS/AVIS (2005)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

AVIS EM ALTA!

O Alentejo Popular é um jornal on-line que pode ler aqui: http://www.alentejopopular.pt/
Na sua página de “Vozes” aparece um cartoon subscrito por alguém que se intitula de “AvizRara”. Não sei quem é mas não é muito difícil depreender pelo nome com que se subscreve que se trata de alguém ligado a Avis moderno ou a Aviz antigo.
Seja quem for, para ele(a) os parabéns "DO CASTELO" pela imaginação e sentido crítico demonstrado e creia que continuarei a apreciá-lo(a) em: http://www.alentejopopular.pt/vozes.asp

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A BIBLIOTECA MUNICIPAL DE AVIS TEM...

Foto: "...a Biblioteca Municipal de Avis tem...a prenda ideal para oferecer neste Natal - um LIVRO..."




É isso mesmo: a Biblioteca Municipal de Avis tem aquilo que você tanto tem procurado: a prenda ideal para oferecer neste Natal – um LIVRO ao seu gosto e a preços de feira. Alguns têm descontos de 10% em relação ao preço de capa. Poderá ser pura técnica de venda, mas as senhoras da Biblioteca asseguram-me que os preços são iguais ou inferiores aos do Modelo. A mim convenceram-me!
Numa iniciativa que irá decorrer até dia 29 do corrente mês de Dezembro, ali poderá encontrar autores com estilos de escrita tão diferentes como os conhecidos José Saramago, Agustina Bessa Luís, José Luís Peixoto ou menos conhecidos como Catarina Pereira Araújo e temas tão diversos como a vida de Tony Carreira ou de Fidel Castro, romances variados, muitos livros infantis, etc. etc. etc. (Acho que o que você procura se insere nestes do etc. etc. etc….)
“DO CASTELO” regista com agrado este acontecimento e endereça parabéns à D. Helena, à D. Dulcínia e à D. Vitória Maria
(boas melhoras para si, D. Vitória) pelo apego que estão a dedicar a esta iniciativa, como é aliás apanágio em todas as actividades que à “sua/nossa” biblioteca digam respeito.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O JARDIM DO MESTRE: POIS É!

Foto: "Na passada sexta-feira, as obras ficaram como a foto documenta."

Pois é: continuo convencido que o nosso Jardim do Mestre vai ficar muito a ganhar com as obras de remodelação.
Na passada sexta-feira, as obras ficaram como a foto documenta.

sábado, 6 de dezembro de 2008

AVIS EM ALTA!


Estas coisas acontecem.
Recebi um mail vindo da Bélgica que me falava nesta exposição de Orlando Junça. Nós (pelo menos eu) por cá, desconhecíamo-la. Mas quem é Orlando Junça? Pois Orlando Junca é nem mais nem menos que o Presidente da Assembleia-geral da Amigos do Concelho de Avis – Associação Cultural.
Possuiu até há pouco tempo uma casa de habitação na parte histórica de Avis, mais precisamente na Rua dos Calados e é Comendador da Ordem Militar de Avis.
Dado que não consegui colocar o anúncio/convite da exposição com possibilidade de se ampliar e se poder ler, passo a transcrevê-lo:
“ Convite do Director do Espaço Restelo, para a inauguração da exposição de aguarelas DE ONTEM E DE HOJE… de Orlando Junca, nas suas instalações na Rua Dom Francisco de Almeida, Nº 8, ao Restelo, que terá lugar no próximo dia 4 de Dezembro de 2008, quinta-feira, entre as 18 e as 19,30horas.
Esta exposição pode ser visitada até dia 31 de Janeiro de 2009, nos dias úteis, das 10.00 ás 18.00 horas.”
Para o amigo Orlando Junca, “DO CASTELO” endereça sinceros parabéns por mais esta exposição e a si, se tiver oportunidade, peço-lhe que faça o favor de a visitar.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

CESTAS DE POESIA (XLV)

O convidado das "Cestas de Poesia" do mês de Dezembro vai ser ainda o nosso amigo JOÃO MOREIRA. A sua obra é imensa e por isso merece que lhe dediquemos mais um mês.
Um poeta canta amores e desamores, pois então o amigo João diz-nos o seguinte numas décimas que fez - imagine-se! - em ... 1952:
Mote
PARABÉNS E SENTIMENTOS
TUDO JUNTO TE VOU DAR
PARABÉNS EM TEUS LAMENTOS
E SENTIMENTOS DE CASAR

I
ESQUECESTE O PASSADO
COM CERTA INGRATIDÃO
MUDASTE DE OPINIÃO
JÁ TENS OUTRO A TEU LADO
QUERES MUDAR DE ESTADO
DERAM-ME CONHECIMENTOS
OS TEUS FRACOS PENSAMENTOS
SERÃO CONHECIDOS NO FIM
E SÃO ENVIADOS POR MIM
PARABÉNS E SENTIMENTOS

II
DE CERTO ESTÁS LEMBRADA
DESSES TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO
EM TODA A OCASIÃO
POR MIM ESRAS DESEJADA
COMO SENDOS UMA FADA
QUE PRETENDIA ADORAR
HOJE RESTA-ME O PENSAR
NO QUE FORAM ESPERANÇAS
FELIZ SORTE E LEMBRANÇAS
TUDO JUNTO TE VOU DAR

III
POR LONGE ESTAR VIVENDO
NÃO QUERIA CAREDITAR
NO QUE SE ESTÁ A PASSAR
MAS DE MAL NADA PRETENDO
ESTOU DAQUI ESCREVENDO
SEM TER ARREPENDIMENTOS
ESSE TÃO DOCES MOMENTOS
EM QUE SENTIMOS CALORES
NÃO TE QUERO DAR LOUVORES
PARABÉNS DE TEUS LAMENTOS

IV
POR TI SEREI ESQUECIDO
MAS SE FORES MULHER LEAL
DEVES TU CONTAR AFINAL
O PASSADO AO MARIDO
COM TODO O BOM SENTIDO
E EM CERTO PARTICULAR
QUAL O PRIMEIRO A CHEGAR
ONDE TU SABES E EU SEI
É POR ISSO QUE TE DIREI
E SENTIMENTOS DE CASAR

AUTOR: JOÃO MOREIRA DOS SANTOS/AVIS (1 952)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

AVIS EM ALTA!


O Jornal “Correio da Manhã” já o tinha publicitado na página 11 da sua secção de anúncios na edição de domingo, dia 23 de Novembro: nos 19ºs Jogos Florais da Freguesia da Ameixoeira, em Lisboa, um avisense foi distinguido com uma Menção Honrosa na modalidade de Conto, sendo que não foi atribuído o 1º Prémio que, a acontecer, teria “atirado” o nosso conterrâneo para o pódio. O tema proposto pela organização dos Jogos Florais foi: “O OUTONO" e a distribuição de prémios ocorreu no passado sábado, tendo mais uma vez sido dito alto e bom som o nome de Avis.
“DO CASTELO” teve acesso ao conto e deixa-o aqui reproduzido, para o partilhar com quem goste de ler.
Façam favor de se servir.

TITULO: OUTONO

O Dr. Gonçalves observa Amélia em princípios de Outubro e a conversa do médico é sempre a mesma coisa:

- Temos que ter cuidado com o Outono. É uma altura terrível…as defesas estão mais frágeis…ficamos todos mais vulneráveis…
Amélia já sabe esta conversa de cor. Também já sabe que tem de reforçar a dose de Cipralex, ou não vivesse ela com esta depressão desde a morte de seu pai.
Atrás das janelas do monte, Amélia desvia com cuidado a cortina rendada feita por sua avó. Espreita para o exterior e vê como as folhas já estão amarelecidas nos enormes plátanos que ladeiam o caminho de terra batida que se estende lá desde o fundo, junto à estrada de alcatrão, até ao monte. Este tinha um nome de que gostava particularmente: “O meu sonho”. Foi-lhe posto pelo avô. Ali naquele rincão de terra quase extrema entre um Alentejo que se estende por enormes pradarias e a Beira que já por ali deixa antever as suas enormes serranias, o avô Tomás construíra o seu sonho, que agora Amélia desfrutava, relembrando, da janela do seu quarto. Via lá ao fundo do lado esquerdo a mancha de castanheiros frondosos que estendendo-se encosta acima, abasteciam de castanhas não só a sua casa como dava para oferecer uns magustos àqueles que lhes pedissem. Na zona mais baixa do terreno, ficava a horta onde se criava de tudo um pouco: couves, abóboras e mogangos que agora já estavam colocadas em cima das paredes para apanharem o sol fugidio do dia e o frio das noites para “encascarem”, como lhe ensinaram. A horta dava milheirais enormes, que nesta altura do ano deviam de serem colhidos antes que as mengengras debicassem as maçarocas para comerem os bagos com os seus fortes bicos pontiagudos. A horta, regada pelo Ribeiro Galego que corria ao cimo, era um paraíso.
Amélia estava triste, já não gostava de nada e não gostava particularmente do Outono. Já vimos porquê: por causa das depressões que teimosamente a torturavam e que se tornavam mais penosas de suportar à medida que relembrava, uma e outra vez o passado. Parecia masoquismo. Aquela era mais uma tarde de tortura e sofrimento. Poderia pensar-se que gostava de se martirizar, mas era da própria doença. Olhando os campos ressequidos por uma seca que este ano teimava em prolongar-se, Amélia via como a terra estava gretada pelo vento frio. Mais gretada que a sua pele, mais que a sua alma. Antigamente não era assim: começava a chover por alturas do S. Mateus e a bendita água só deixava de cair lá para os princípios de Fevereiro. Sempre a chover, sempre! Mas tudo mudou. Dizem que foi por culpa do Homem. Não por culpa dela, Amélia, que nada fizera para que isto acontecesse. Sorri vagamente ao recordar que quando vinham as primeiras águas, o irmão mais novo, o José, ia logo à horta ver de bichinhos que retirava do interior das canas dos milhos para armar as esparrelas onde os piscos, por fome ou curiosidade, acabavam por ficar presos. Quando já não havia bichos, então recorria a azeitonas pretas, como isco. Até tordos apanhava. Ela não gostava que o mano fizesse mal aos pássaros, mas enfim, ele era rapaz e ela desculpava-o. Um dia haveria de mudar. E efectivamente mudou. Pois se tudo muda…Lembra-se de repente, num assalto de recordações mais ou menos tumultuosas, que também era pelo Outono que, depois de caírem as primeiras chuvadas, quando as terras ficavam prenhes de água e sempre que a seguir aparecia um solinho quente, as formigas de asa saíam dos seus buraquinhos e se punham a voar. Cansadas, muitas delas acabavam por ir cair nos ribeiros e nessas alturas era certo e sabido que o pai, com uma cana da Índia onde atara um fio de coco com um anzol e um isco, apanhava peixe com fartura ali no Ribeiro Galego, que nessa época ainda levava alguma água e estava cheio de pegos fundos. Depois a Mãe, que Deus a tenha lá em descanso, fazia uma sopa de peixe deliciosa, com muito poejo, que ela nunca mais comeu depois que essa santa desapareceu. Não compreendia porque é que as formigas de asa depois do primeiro voo, cortavam as asas com as suas próprias mandíbulas. Matavam-se a elas próprias. Seria por ser Outono? Não tinha resposta para essa dúvida.
Amélia repara agora nas enormes romãzeiras que ficam ali mesmo junto à casa. Estão carregadas. Também já são muito velhas. Se calhar tão velhas como ela. Mesmo assim cumprem perfeitamente a sua função: dão grandes e sumarentas romãs, tal como os marmeleiros que rodeiam a horta dão enormes marmelos. As folhas destes já lhe caíram, mas os marmelos, amarelinhos lá estão à espera que alguém os colha e faça umas taças de marmelada ou simplesmente os cozam e comam com um pouco de açúcar. Igualmente sem folhas mas carregadinhos, estão os dois diospireiros que, não desfazendo, davam os melhores diospiros que havia nas redondezas: não travavam nada a boca. Logo à tarde iria pedir ao marido que lhe colhesse umas romãs e uns marmelos para ela provar. Se tivesse vontade haveria até de comer um diospiro…
Amélia sente sono. Efeitos dos antidepressivos. Mas hoje, não sabe porquê, não quer adormecer. Hoje vai ser mais forte que os comprimidos. Quer mais que nunca reviver uma vida que foi sua mas que o tempo tão rapidamente gastou. Fixa a mancha amarela-
-encarniçada dos castanheiros e prossegue na sua saga de recordações e de martírio…
….No Outono as castanhas caíam dos castanheiros, mas muitas delas não saíam dos ouriços. Para as apanhar, havia que arranjar um pequeno pau em forma de martelo para com ele bater nos ouriços e assim as castanhas saírem e depois serem juntas dentro das cestas de vime que o Ti Zé da Lola fazia e vendia. Uma vez cheias, as cestas eram despejadas para sacas, que depois de atadas eram transportadas pelos dois burros que o pai tinha. Por cima da albarda, uma saca de cada lado, atadas com duas cordas cruzadas e ainda mais uma saca em cima. E os burritos lá seguiam carregados, por um carreiro mau de andar, a caminho de casa. Ali, as castanhas eram descarregadas e colocadas a secar numa dependência própria da casa, denominada de “secadeiro”. Amélia abre a boca num bocejo sonolento mas reage e não dorme, não pode dormir: lembra-se tão bem…por baixo das telhas do secadeiro, havia um segundo tecto formado por ripas, separadas entre si por uma distância suficientemente curta para que as castanhas não caíssem de ali abaixo, pois era para lá que o seu avô, o seu pai e sabe lá já a Amélia mais quem, as transportavam de seguida carregadas às costas e subindo uma escada de acesso bastante aprumada. No chão era feito um lume que ficava a arder todo o dia e que de noite se mantinha aceso até se acabar a lenha. O lume mudava de local no lajeado, correndo os quatro cantos da casa e o meio, sendo que todos os dias as castanhas eram mexidas lá em cima com uma grande pá de madeira. Assim, a pouco e pouco, elas iam secando lentamente e transformavam-se nas deliciosas castanhas secas ou piladas. Mas uma vez secas, havia que as descascar. Amélia sabe como era. Amélia sabe e recorda com emoção esses momentos. É por isso que não pode dormir…quer viver. Relembra que, por ser muito arrapazada em gaiata, ainda pisou castanhas – uma só vez. Para descascar as castanhas, a coisa passava-se assim: um pau grosso era colocado horizontalmente em cima de dois apoios que mais não eram que dois troncos colocados em forma de xis. O pau horizontal situava-se a uma altura um pouco superior à altura da cintura. Era aí que se iriam apoiar como garras, as mãos calejadas de outras lides agora viradas para a descasca da castanha. Estas, vindas do secadeiro já devidamente secas, eram colocadas dentro de uns cestos feitos de vergas de cana em que, a uma boca larga se seguia uma zona mais bojuda, arredondada. Os homens entravam então para dentro dos cestos e com as botas cardadas, iam saltando em cima das castanhas, servindo-se, para se impulsionar, do apoio que faziam com as mãos no tal barrote colocado horizontalmente à altura da cintura. Pisavam e repisavam sentindo que a cada salto, debaixo das suas botas, havia castanhas que iam perdendo a casca. De tanto pisada, a casca transformava-se em “moinha”. Havia que separá-la das castanhas. Então era pegar nos cestos pelas asas e abaná-los em semicírculos, ora para a esquerda ora para a direita, de modo que a “moinha” fosse caindo para o chão pelas frestas das vergas da cana, ficando algumas castanhas já completamente descascadas. Mas não todas. Por isso repetia-se a operação uma e outra vez, tantas até as castanhas ficarem todas limpas. Manel Galapito, que Deus tenha, fora um dos melhores e mais rijos pisadores de castanhas. Tinha força até mais não. Certa vez a gaiata Amélia-Maria-Rapaz quis experimentar e ele fez-lhe a vontade. As pernas delgadinhas dentro de umas botas de borracha demasiado largas para elas, foram largadas para dentro de um cesto. Amélia lembra-se bem: mal chegava ao pau de apoio, pulou duas ou três vezes, cansou-se e depois disse para o Manuel Galapito: - Ó ti Manel, isto é um trabalho muito duro…
Manuel Galapito que era mais de trabalho do que de falas, apesar de tudo sorriu, segurou-a por baixo dos braços, tirou-a de dentro do cesto e respondeu-lhe enquanto a colocava no chão:
- É para que saibas…
Ti Manel Galapito suicidou-se no Outono do ano seguinte a este episódio. Vá lá saber-se porquê…talvez por ser Outono e por nesta altura as pessoas dizerem que a queda da folha é uma época difícil de atravessar. Ti Manel não a conseguiu atravessar.
O fraco sol outonal, entretanto rodara mais um pouco e a sala ficou mais aquecida. Amélia sentiu uma sonolência mais forte e ia começar a dormir quando a sua filha Joana, que morava ali perto a veio despertar desse adormecimento.
- Mãe, trago-lhe aqui uma coisa de que gosta muito…
- Já não gosto de nada, filha. É Outono e parece que nesta altura ainda me sinto pior, mais agarrada a um passado que sei não poder voltar a viver, mas que teimosamente me massacra. Estou doente minha filha. O Outono só tem coisas más…
- Calma mãe. Não é assim. Não é que eu não goste de a ouvir contar as suas experiências do campo vividas por esta altura do ano, mas a mãe já mas contou tantas vezes que hoje quero ser eu a falar consigo. Está bem?
- Mas o que é que aí me trazes?
-Calma mãe, vamos falar um pouco. Melhor, vai-me escutar um pouco, está bem?
-Fala,
disse Amélia um pouco incomodada mas simultaneamente curiosa por saber o que a filha lhe ia dizer.
- A mãe martiriza-se com as suas recordações, os seus medos, os seus fantasmas que cada Outono lhe traz. Vou-lhe dar dois ou três exemplos de situações de que se a mãe se lembrasse, veria que o Outono não é assim tão cinzento como a mãe o pinta. Então diga-me lá uma coisa: a mãe sabe quando é que nasceu o seu primeiro neto? Foi no Outono, a 25 de Novembro. E se bem me lembro, a mãe disse-me certa vez que o nascimento do seu primeiro neto lhe tinha dado quase tanta alegria como o meu próprio nascimento. Lembra-se? Sim, então porque o esquece? E os magustos do S. Martinho? A casa a abarrotar de gente, o enorme magusto que ainda hoje fazemos no antigo secadeiro com todos os empregados do monte, porque é que a mãe se refugia aqui e é preciso eu vir buscá-la à força para descer até junto de nós? Depois de lá estar já gosta. Mas depois esquece… E o dia de Santos, com toda essa “canalha” pequena a vir pedir os Santinhos? Há lá festa mais bonita do que recebermos na nossa casa toda essa criançada que ainda agora nos vai aparecendo a querer umas castanhas, umas romãs ou uns caramelos que a mãe tanto gosta de ofertar. Mas depois esquece. E …
- Olha filha: se calhar tens razão e se me desses mais atenção eu viveria melhor. Mas…já agora passa-me aí a caixa do Cipralex e um copo de água…

Pseudónimo: Amélia

"DO CASTELO" endereça parabéns ao autor que pediu anonimato






segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A VINGANÇA SERVE-SE FRIA!

Foto: Bandeira Nacional Portuguesa (adulterada) - Oiça aqui o Hino da Restauração pelos nossos "compadres" de Elvas: http://www.youtube.com/watch?v=CX2roSxua3k





Em 1 de Dezembro de 1640 foi reconquistada a independência Portuguesa, colocando-se assim fim à dinastia dos “Filipes” e tomando conta das rédeas do Reino de Portugal a Casa de Bragança com a ascensão de D. João IV a Rei de Portugal. Estivemos debaixo do jugo espanhol durante 60 anos.
Não deixa de ser curioso que foram as “ Alterações de Évora” ocorridas em Agosto de 1637 que deram azo à revolta de 1640. Não menos curioso o facto de localidades como Crato e Sousel terem de imediato aderido ao desrespeito pelos fidalgos espanhóis e ao arcebispo.
Mas a vingança serve-se fria. Passados todos estes anos, eis que os espanhóis, assim como quem não quer a coisa vão a pouco e pouco tomando conta do nosso Portugal. Os médicos e os enfermeiros invadem os nossos Centros de Saúde. As melhores terras do Alentejo são já pertença dos espanhóis, os porcos que por aí engordam nas grandes herdades portuguesas são dos espanhóis, os grandes olivais que por aí se avistam são pertença dos espanhóis. E a verdade é que para eles, espanhóis, de pouco lhe interessa que o olival tenha uma média de vida de doze anos, que depois durante mais “x” vezes esse olival seja arrancado e replantado até à exaustão dos solos que por falta de descanso (poisio) acabarão por já nem oliveiras suportarem. Para eles isso é…tinto! Os contratos de arrendamento são quase sempre na ordem dos 30 anos...
Por Avis esta regra confirma-se: há terrenos da Fundação Abreu Calado alugados para implantação de aliviais, onde trabalham/trabalharam muitos espanhóis, a Herdade do Painho está igualmente a ser “invadido” e aqui bem perto das nossas muralhas, o caso mais curioso: em 1640 acabou-se o “negócio” dos Filipes espanhóis e agora, os espanhóis chegam cá e fazem negócio com os “Filipes” portugueses de Avis, e ainda por cima, pasme-se meus senhores, nas Terras do Rei plantaram um olival …espanhol!

Nota : relembre aqui factos sobre a "Restauração da Independência"